Imprensa alemã atenta à Nigéria e à Costa do Marfim
15 de abril de 2011Como nota o Frankfurter Rundschau, os últimos desenvolvimentos da situação na Costa do Marfim foram seguidos com muito nervosismo na Nigéria. A experiência diz que, também na Nigéria, as eleições poderão transformar-se rapidamente em problemas graves. Os três escrutínios já realizados desde o fim da ditadura militar, em 1999, foram manchados por irregularidades e muita efusão de sangue.
O "People's Democratic Party", no poder, sempre conseguiu assegurar a vitória com muito dinheiro, violência e combinações duvidosas, diz o jornal. Goodluck Jonathan, o ex-vice-presidente que no ano transacto herdou a presidência do defunto líder Umaru Yar'Adua, prometeu "as eleições mais transparentes da história da Nigéria"... e tudo leva a pensar, considera o jornal, que este especialista em zoologia, hoje com 53 anos de idade e cuja ascensão à liderança do partido no poder foi o resultado de um acaso e sorte, cumprirá a sua promessa.
Prisão de Gbagbo, em Abidjan, também tema de destaque nos jornais
Os jornais alemães também publicaram muitos artigos sobre a prisão do ex-presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo.
A captura, na passada segunda feira (11/4), inspirou aos jornais títulos como "Esperança em Abidjan", "A aventura terminou" ou ainda "O fim de um ditador". Mas, como nota o Berliner Zeitung, que destacou a precaridade da situação em matéria de segurança, se Ouattara talvez tenha ganho a guerra, contudo não está seguro que também tenha conseguido a paz.
Milhares de milícias fiéis a Laurent Gbagbo continuam ainda com as suas armas e poderão criar uma organização clandestina que continuaria a dividir o país. O presidente Alassane Ouattara deve assumir o mais depressa possível o controlo total das forças da ordem da Costa do Marfim.
Também para o Süddeutsche Zeitung, Ouattara já tem problemas em colocar ordem no seu próprio campo porque este é composto por diferentes milícias, unidas principalmente pelo combate contra o inimigo comum, Laurent Gbagbo.
Mas é incerto e problemático que Ouattara consiga controlar todas essas forças. 46% dos eleitores, lembra o jornal, votaram a favor de Gbagbo em novembro passado e, para muitos especialistas, Ouattara não poderá estabilizar a Costa do Marfim sem integrar as forças do campo Gbagbo e criar um equilíbrio político, sem o qual a divisão do país não será ultrapassada.
"O que deverá fazer Ouattara?", pergunta, por seu turno, o Tageszeitung, num editorial que em seguida responde: "Ouattara deveria reenviar os militares franceses para o seu país, desmobilizar os indisciplinados no seio das suas próprias forças armadas, combater o que resta das milícias pró-Gbagbo, integrar no seu governo apoiantes de Gbagbo e tecnocratas sem etiqueta política, julgar os criminosos de guerra dos dois campos, decretar uma amnistia e acelerar a reconstrução do país". Para o jornal, é tudo isso que representa o volume de exigências oriundas de todos os lados, exigências que são realistas.
O Frankfurter Allgemeine Zeitung destaca que houve no seio da União Europeia divergências sobre a questão de saber até onde os europeus deveriam saudar a vitória de Alassane Ouattara, numa altura em que os seus soldados eram acusados de terem cometido atrocidades contra os civis. A França defendeu uma avaliação, enquanto países como a Alemanha queriam uma declaração dos ministros europeus dos Negócios Estrangeiros que não demonstrasse um grande entusiasmo por Ouattara.
Autor: António Rocha
Revisão: Renate Krieger