Imprensa alemã destaca intervenção no Mali
18 de janeiro de 2013O matutino Süddeutsche Zeitung, editado em Munique, publica uma reportagem intitulada "No inferno" e no qual se descreve as condições de vida nos territórios do Mali controlados pelos islamistas. E o jornal salienta o caso da cidade de Tombuktu, que era um oásis cultural e deixou de ser desde que os islamistas tomaram conta dela:
"Cultura, dança, festas tradicionais exuberantes, casamentos - Tombuktu tinha isso tudo em abundância. Aqui as pessoas sempre souberam viver. Com a vinda dos islamistas tudo isso acabou. Agora reina o medo. O silêncio. A vida pública desmoronou, confirma Mahamane, diretor da Rádio Al Faruk, uma de duas rádios que ainda estão no ar em Tombuktu. Seis outras já deixaram de emitir. Mahamane conta que alterou radicalmente a grelha de programas. Antes tocava música, muita música, alguma ocidental, bandas como os Pink Floyd. Agora apenas se emitem recitações do Corão."
Posição da França
O mesmo jornal, o Süddeutsche Zeitung, publica também um artigo sobre a posição do governo francês: citamos:
"O ministro francês da defesa, Jean-Yves Le Drian, e o chefe do exército francês, Édouard Guillaud, disseram que o objetivo é expulsar os combatentes islamistas do território maliano. Para isso conta-se com o apoio de outros países, nomeadamente e sobretudo dos vizinhos africanos. A Nigéria deverá liderar o contingente africano que será composto de 3.300 soldados. Entretanto a França aumentará para cerca de 2.500 homens o número de franceses no terreno. A pressão sobre os islamistas terá que aumentar para que a intervenção possa ser coroada de êxito."
Apoio da Alemanha sabe a pouco
Noutro artigo o Frankfurter Allgemeine Zeitung avalia o papel da Alemanha neste conflito. Citamos:
"A chanceler Angela Merkel e o ministro alemão da defesa, Thomas De Maizière, asseguraram que concordam com a postura da França: a situação no Mali era muito tensa e requeria uma reação firme por parte da comunidade internacional. Mas se isso é verdade fica aqui a questão: porque é que a Alemanha contribui apenas com dois aviões de transporte para o êxito desta intervenção?"
Estados Unidos responsabilizados pela situação
O Frankfurter Allgemeine Zeitung, diário editado na cidade de Frankfurt, debruça-se sobre o papel dos Estados Unidos da América e avalia esse mesmo papel da super-potência mundial da seguinte forma:
"Os Estados Unidos carregam alguma responsabilidade pelo que aconteceu no Mali. É que as forças radicais que tomaram conta do Norte do Mali são constituidas por elementos de etnia tuaregue que outrora serviam o exército líbio do ditador Kadhafi e que fugiram com as suas armas para o Mali, depois da intervenção dos americanos e seus aliados na Líbia. Acresce que Amadou Sanogo, o militar que liderou uma ofensiva contra o governo maliano, recebera formação nos Estados Unidos. Por este e por outros motivos, muitos africanos atribuem parte das culpas pelo que aconteceu no Mali aos Estados Unidos. Mas - verdade seja dita - a América dificilmente poderia ter evitado os problemas."
Argélia leva a cabo operação contra ocupantes de campo de gás
O jornal Neue Zürcher Zeitung, editado em Zurique, na Suiça de língua alemã, fala sobre a operação da Argélia contra o campo de gás, onde se encontravam muitos estrangeiros, sequestrados por islamistas, ocorrida na quinta-feira:
"O ministério argelino do interior confirmou a operação de resgate. O exército teria atacado os islamistas, que estariam cercados, sem hipótese de atingir os seus objetivos. Mas a operação - tudo o indica - terá corrido mal e vitimado dezenas de pessoas, entre elas alguns dos estrangeiros que lá trabalhavam. A ação dos islamistas no campo de gás argelino deve ser entendida como uma reação à intervenção francesa no Mali. O governo argelino do presidente Bouteflika - recorde-se - autorizou os aviões militares franceses a sobrevoar território argelino."
Moçambique: Mega-projeto agrícola ameaça pequenos agricultores
Finalmente destaque para um artigo publicado no jornal Neues Deutschland, editado em Berlim: Título: A "invasão do Corcovado". Nesse artigo fala-se, nomeadamente do mega-projeto agrícola "ProSavana", no norte de Moçambique, promovido por uma multinacional brasileira, japonesa e moçambicana. O jornal refere que na região de Nampula se vai produzir soja e milho em grande escala, para a exportação, seguindo o modelo praticado no sul do Brasil. Quem vai sofrer as consequências vão ser as camadas mais desfavorecidas em Moçambique.
Citamos:"Organizações da sociedade civil moçambicana como a UNAC, União Nacional de Camponeses, e a ORAM, Associação Rural de Ajuda Mútua, acusam os promotores do projeto de não terem dialogado com as populações locais. Essas temem a perda dos seus terrenos e das suas culturas de subsistência. E as preocupações têm fundamento."
Autor: António Cascais
Edição: António Rocha