Imprensa alemã destaca região dos Grandes Lagos e Mali
3 de agosto de 2012
Paul Kagame está cada vez mais isolado, escreveu por exemplo o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Até agora, o presidente ruandês sempre contou com os seus bons contactos com as potências mundiais. Este tutsi muito austero, que transmitia aos ocidentais uma imagem de “visionário”, conduziu o Ruanda em direção à modernidade, numa altura em que o país saía profundamente dividido do genocídio de 1994.
Por causa disso, até agora a comunidade internacional perdoou-lhe por não ter aplicado muito os principios democráticos. Entretanto, a economia ruandesa cresceu como nunca e este “boom” económico deveu-se, em grande parte, à pilhagem dos recursos naturais do Congo, algo que foi conscientemente deixado de lado. Agora, sublinha o diário, parece que a situação mudou.
Suspensa parte da ajuda alemã ao Ruanda
À primeira vista, tudo está claro, nota, por seu lado, o diário Die Tageszeitung. O Ruanda apoia os rebeldes no Congo e é preciso que esse apoio cesse. Para que tal aconteça, devem ser exercidas pressões sobre Kigali. O problema, acrescenta o jornal, é que as primeiras acusações da Organização das Nações Unidas (ONU) relativamente a um apoio ruandês aos rebeldes do M23 começaram a circular em Junho. E como reação, o governo alemão suspendeu, há já quatro semanas, a assinatura de um acordo sobre a concessão de uma ajuda orçamental de 21 milhões de euros. Algo que não foi tornado público de imediato.
Entretanto, muito aconteceu. O Ruanda respondeu detalhadamente às acusações da ONU. Foi nessa altura que Berlim anunciou a suspensão da sua ajuda. Segundo o mesmo jornal, as ameaças do Ministério da Cooperação da Alemanha levantam, contudo, algumas questões: A Alemanha acredita realmente que tudo seria melhor no Congo Democrático se o país não tivesse vizinhos? E se a Alemanha se interessa pela crise no longínquo Congo, poderá criticar-se o vizinho ruandês por fazer o mesmo?
Intervenção militar na RDC?
Um semanário alemão põe uma outra questão: Estaremos em vésperas de uma intervenção militar na República Democrática do Congo (RDC)? Depois da operação da Alianca Atlântica (NATO) na Líbia, a ideia de intervir militarmente desapareceu das gavetas dos gabinetes ministeriais ocidentais, refere o jornal Die Zeit.
Em África, aconteceu precisamente o inverso. Nos últimos meses, foram lançados três apelos para a intervenção de tropas africanas: no Uganda, para banir o chefe rebelde Joseph Kony; no Mali, onde os islamitas ocupam atualmente o norte do país; e no leste do Congo, onde novos combates entre rebeldes e exército ameaçam a frágil estabilização dos últimos anos.
Esta sede de ação não representa tanto o desejo de aventuras militares, mas sim a aspiração a uma arquitetura africana de segurança. A União Africana (UA) é a única organização que inscreveu na sua Carta Magna a responsabilidade de proteger os Esatdos. No entanto, face aos ditadores e cleptócratas no poder, esse princípio da organização panafricana deve ser encarado com precaução, porque também se sabe que no continente africano o princípio da não ingerência já não é intocável.
Traoré de regresso a Bamaco
Também uma intervenção no Mali encontra obstáculos, nomeadamente a falta de fornecedores de tropas que já têm uma certa experiência do deserto. O país continua a ser tema de destaque nos jornais alemães, que esta semana também escreveram sobre o regresso à capital do país, Bamaco, do presidente de transição, Dioncounda Traoré.
Traoré, que esteve ausente durante dois meses, abraçou efusivamente o primeiro-ministro Cheikh Modibo Diarra à sua descida do avião, nota o Süddeutsche Zeitung. O gesto faz pensar em dois jogadores de boxe que se abraçam entre dois “rounds”, escreve o jornal. Com 70 anos de idade, o presidente Traoré sabe que todas as esperanças para salvar o Mali repousam agora nele.
Os tuaregues, os golpistas e os islamitas são atualmente três forças que desestabilizam o país e o primeiro-ministro não consegue controlá-las. Mas a fase decisiva na luta pelo poder com Cheikh Modibo Diarra está ainda para vir, considera o diário, ao sublinhar que o chefe do governo é cada vez mais criticado pela sua proximidade com os golpistas. Por precaução, Dioncounda Traoré proclamou a sua convicção que os militares irão controlar a segurança do presidente da República. Pouco antes, manifestantes saíram às ruas da capital maliana para apoiar o seu rival Cheikh Modibo Diarra.
Autora: Madalena Sampaio
Edição: António Rocha