Moçambique: Instabilidade dificulta novos investimentos
22 de julho de 2013De acordo com a última análise à economia moçambicana feita pelo Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, assinada pelos analistas Paula Carvalho e Nuno André Coelho, a ausência de um ambiente político estável pode colocar em risco a capacidade de atracção de investimento estrangeiro que tem sido um dos pilares do crescimento do país.
Nuno André Coelho destaca que, ao longo dos últimos dois anos, Moçambique tem atingido taxas de crescimento económicas enormes em resultado das descobertas recentes de gás e carvão que têm fomentado a entrada de capital estrangeiro.
“Desde há uns anos para cá, que os níveis de investimento estrangeiro tem aumentado extraordinariamente”, afirma o analista do BPI, destacando os “grandes processos de investimento, os mega-projectos, direccionados para a exploração dos recursos naturais.”
Diálogo entre RENAMO e FRELIMO
No entanto, a falta de consenso entre a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder, está a causar celeuma no país e no mundo, já que a escalada do impasse poderá por em causa a economia do país.
O analista do BPI lembra que a RENAMO ameaçou paralisar a circulação numa das principais linhas ferroviárias de Moçambique, a Linha de Sena, que faz a ligação entre as minas de carvão no interior de Moçambique e os portos, e é a única responsável pelo escoamento de carvão para exportação.
“Com essa linha bloqueada, as perspectivas futuras para a exploração de carvão podem ser comprometidas e revistas em baixa”, afirma Nuno Coelho, defendendo que o impacto económico seria muito grande “dado que esse setor está agora na base de crescimento de Moçambique.”
O diálogo entre os dois partidos políticos é essencial para o desenvolvimento económico e social do país, tendo em conta as eleições presidenciais do próximo ano, nas quais Armando Guebuza não poderá candidatar-se, visto já ter cumprido dois mandatos enquanto Presidente da República de Moçambique.
Nuno André Coelho acredita que as duas forças políticas vão entender-se pelo bem económico do país. “É o desenvolvimento económico de Moçambique que está em causa. Não acredito que os dois partidos políticos – a FRELIMO e a RENAMO – ponham em causa toda a sustentabilidade e potencial crescimento que tem conseguido atingir apenas por causa de um conflito político, de uma tensão política recente”, diz.
País cresce, pobreza mantém-se
No ano passado, Moçambique cresceu 7,4%, e este ano deverá acelerar para os 8,5%, o que o coloca entre os países com maior crescimento do mundo, apesar de ser também um dos mais pobres.
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) praticamente duplicou em 2012, passando de 2,7 para 5,2 mil milhões de dólares, o equivalente a 37,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. No ano passado, 83% destas verbas foi direcionada para o setor da indústria extrativa.
O analista afirma que há perspectivas do país crescer ainda mais. “Moçambique ainda tem um PIB muito pequeno. Tem tido uma expansão enorme ao longo dos últimos dois anos, mas ainda tem capacidade e potencial para se expandir muito mais”, defende Nuno Coelho. E se começarem a ser resolvidos alguns problemas de infra-estruturas e transportes, o potencial de crescimento da exploração de recursos naturais será ainda maior, conclui ao analista.