Instabilidade política em Moçambique afasta os turistas
17 de novembro de 2015Há cerca de dez anos, o turismo era tido com um dos principais motores de desenvolvimento de Moçambique. O setor ocupou o topo das preferências dos investidores estrangeiros que procuravam oportunidades de negócios em Moçambique. Mas há alguns anos, o cenário mudou. O turismo perdeu relevância e os políticos parecem estar mais orientados para os recursos naturais.
A DW África conversou com Mariamo Abdula, professora da Universidade Eduardo Mondlane da Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Inhambane que esteve no seminário do Comitê Coordenador Moçambique-Alemanha (KKM) em Bielefeld, Alemanha, cujo tema foi o Turismo:
DW África: O turismo foi durante alguns anos, em meados dos anos 2000, a principal fonte de receita através de investimentos estrangeiros diretos em Moçambique. Agora caiu em termos de posições relativas e ficou atrás de setores como os recursos naturais. Qual é a importância atual do turismo como motor de desenvolvimento?
Mariamo Abdula (MA): Tem razão quando diz que realmente em 2000 o turismo foi eleito como o setor principal para investimento. Mas houve vários fatores que influenciaram a baixa do turismo e um dos grandes fatores para essa diminuição pode estar estar ligado aos conflitos que, de certa forma, criaram uma instabilidade politica no país criando esse refreio do fluxo de turistas para Moçambique.
DW África: O conflito entre a RENAMO e o Governo não deixa o turismo em Moçambique expandir. Tem de se resolver este problema antes do turismo voltar a crescer?
MA: Pode ser que sim, pode ser o principal fator, quando falo no turismo internacional principalmente. A questão de estabilidade dos destinos turísticos é o principal fator que vai de certa forma incentivar a deslocação de turistas para aqueles locais.
DW África: O investimento até agora foi principalmente no setor de turismo de luxo: hotéis muito caros, até para um europeu, e segmentos como os "lodges" em lugares muito exóticos ou hotéis para empresários nas capitais provinciais. Onde haveria mais potencial para crescer para além deste segmento?
MA: Acredita-se que seja também a mudança de motivação na escolha de destino turístico um pouco virado para as áreas de conservação e realmente apostar-se no transporte para dar acesso a esses lugares. É a segurança sim, mas também é como chegar a esses lugares tão recônditos do país.
DW África: Nos últimos anos houve um aumento explosivo da caça furtiva em algumas zonas moçambicanas. Por exemplo na reserva do Niassa desapareceram grande parte dos elefantes. Isto não coloca em perigo o potencial turístico das reservas naturais?
MA: Claro que sim, até porque vamos perdendo a população de animais, que são o principal atrativo nessas áreas de conservação. Mas existem grandes esforços locais internos para combater a caça furtiva. Existem investimentos nessas áreas de fiscalização e a manutenção dessas áreas e creio que a longo prazo poder-se-á restabelecer esta segurança dentro das áreas de conservação.
DW África: Até que ponto o turismo pode servir para ser uma alternativa à caça furtiva para as populações locais?
MA: Essa é realmente uma questão bastante pertinente porque se a comunidade não reconhece que os animais vivos vão de certa forma render mais do que o animal morto vai criar um desincentivo. Mas se a população for integrada na gestão dessas áreas de conservação e reconhecer os rendimentos e os valores que possam vir desses animais, que vão incentivar a visita às reservas, então a população, não vai ter nenhuma motivação para combater em conjunto com as instituições legais a caça furtiva.
DW África: Cenas como a caça ao tubarão, que matou um pescador na província de Inhambane nas últimas semanas, não estragam a imagem de um país que tenta preservar o seu meio ambiente nomeadamente numa zona em que há muitos turistas que mergulham principalmente pela presença dos tubarões?
MA: Sim, esses são casos isolados porque a presença desse tubarão “assassino” é estranho para o local porque se trata de uma baía e não é normal a existência dessa espécie em águas calmas e fechadas como numa baía. Sim, em primeiro lugar está a preservação. Mas também o ser humano que está a ser de certa forma violentado. Temos de escolher, em algum momento, através das prioridades e ver o que vale mais a pena conservar. E como dizia um dos responsáveis por essa movimentação da caça, se conseguirmos manter o animal vivo muito bem mas se não conseguirmos, infelizmente vamos ter de optar pela vida humana.
DW África: Em Inhambane existe o maior centro de turismo de Moçambique mas quase não há possibilidades de viajar de Inhambane para o centro e norte do país. Isto não tira muito do potencial turístico para o resto do país para interligar as várias zonas moçambicanas. Por exemplo quem quiser viajar de avião tem de voltar a Maputo ou até mesmo à África do Sul?
MA: Sim e isso é bastante discutido a nível local, tanto mais que há a tentativa de se encontrar mais companhias áreas que possam fazer frente às que existem agora para criar competitividade e o consumidor possa escolher a companhia que satisfaça as suas necessidades. Mas também há que ter em atenção que a ligação entre o norte e o sul, a partir de Inhambane, se pode fazer por via terrestre e as estradas neste momento encontram-se seguras.