Investimentos chineses em Angola são bons mas problemáticos
19 de julho de 2012O presidente chinês Hu Jintao ofereceu esta quinta-feira (19.07) ao continente africano 20 mil milhões de dólares em novos empréstimos, a ser distribuídos nos próximos três anos. Este é dobro do valor que tinha sido oferecido antes pela China ao continente em 2009. Hu Jintao disse que a concessão de empréstimos se vai centrar nas infra-estruturas, na manufactura e no desenvolvimento de pequenas e médias empresas em África.
Nos últimos anos, Angola foi um dos países africanos que recebeu mais créditos da China. Desde 2002, o país recebeu vários milhares de milhões de dólares em empréstimos chineses para reconstruir infra-estruturas, destruídas pela guerra civil.
A DW África entrevistou Markus Weimer (MW), um analista político da Chatham House, no Reino Unido.
DW África: O que é que a China espera obter de Angola em retorno dos empréstimos?
MW: A China também tem interesses próprios em Angola. O petróleo é claramente um desses interesses. Angola é o primeiro fornecedor de petróleo à China em África. Essas linhas de crédito têm que ser também vistas nesta perpetiva.
DW África: Ao nível da política, existe também interesse da China em Angola?
MW: Sendo um mercado emergente e um dos poderes no continente africano, para além da Nigéria e da África do Sul, Angola é também interessante para a China. Mas o primeiro interesse da China no país seria mesmo a economia e o petróleo.
DW África: Uma crítica que tem sido feita aos investimentos chineses em Angola tem a ver com a qualidade das infraestruturas. Quando se fala nesta questão, utiliza-se frequentemente o exemplo de 2010, quando o Hospital Central de Luanda, que tinha sido inaugurado quatro anos antes, teve de ser evacuado por problemas no edifício. Este caso espelha um pouco aquilo que são os investimentos chineses em Angola, ou trata-se de uma exceção?
MW: Trata-se de um mercado. Angola está a comprar um produto e o fornecedor não dá a resposta adequada para o mercado angolano. Acho que é uma questão do governo de Angola de saber onde possa encontrar uma melhor prestação de serviço: e talvez não seja a China.
Realmente, a China está a fornecer infraestruturas mas em termos de qualidade creio que é questionável. Na minha opinião, deveria existir uma competição livre entre os fornecedores que talvez pudessem fornecer uma melhor qualidade. Porque o dinheirto que está a ser investido não é da China, é o dinheiro angolano: são as futuras receitas provenientes do petróleo que estão a ser investidas.
DW África: Então porque é que a China acaba por ser a escolhida?
MW: Acho que existem razões históricas. A China foi o primeiro país a fornecer créditos para a reconstrução de Angola quando outros países ocidentais e da comunidade internacional não faziam isso. Esse é um factor muito importante. Um outro factor é o facto de a China não impor condições para os empréstimos que faz.
DW África: Pode explicar melhor?
MW: Outros países, como os que entram em parceira de desenvolvimento no continente africano, exigem, por vezes, determinadas condições, como por exemplo transparência, para desbloquear o dinheiro - especialmente os doadores.
Por seu lado, a China tem uma política de não ingerência nos assuntos soberanos dos outros países. Acho que é mais fácil . Mas repito, quando é para investir o futuro rendimento de um Estado, o Estado angolano também tem que ver a qualidade do que está a comprar.
DW África: Se tivesse de classificar a ajuda chinesa: será que ela foi boa ou má para Angola?
MW: Acho que foi muito boa. Angola ainda precisa de investimentos nas infraestruturas. Aliás, esse tipo de investimento é uma pré-condição para que o país possa também desenvolver o seu sector privado.
A China era o único país que estava pronto a investir em Angola nesse ramo. Foi positivo, mas isso não significa que será sempre assim.
Estamos a ver, por exemplo, quantas estradas e hospitais estão a ter problemas 2 ou 4 anos depois de serem inaugurados. Talvez a qualidade não seja suficientemente boa e talvez o dinheiro de Angola seja melhor investido com outro parceiro.
Autor: Guilherme Correia da Silva
Edição: António Rocha