Isabel dos Santos diz-se vítima de "campanha politizada"
5 de março de 2018A ex-presidente do conselho de administração da Sonangol, Isabel dos Santos, considerou as acusações da atual administração como "uma campanha generalizada e politizada" e que demonstram um regresso "dos interesses das pessoas que enriqueceram" à custa da petrolífera angolana.
A empresária angolana, que foi presidente do Conselho de Administração da petrolífera estatal entre junho de 2016 e novembro de 2017, respondeu no domingo (04.03), em comunicado, às acusações feitas pelo seu sucessor, Carlos Saturnino, numa conferência de imprensa realizada a 28 de fevereiro.
Saturnino acusou a antiga administração de ter realizado uma transferência de 38 milhões de dólares já após ter sido exonerada, denúncia que já levou a Procuradoria-Geral da República a abrir um inquérito.
"Esta campanha generalizada e politizada contra mim faz-me acreditar que estão de retorno os interesses das pessoas que enriqueceram de bilhões à custa da Sonangol. São estes que hoje fomentam e agitam a opinião pública de forma poder retomar os seus velhos hábitos", lê-se no comunicado de Isabel dos Santos, distribuído ao fim do dia de domingo.
A filha do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, escreve que foi "com espanto" que acompanhou as declarações proferidas pelo atual presidente da Sonangol, pelo que não podia deixar de demonstrar a sua "total indignação, com a forma como, sob o título de "constatações/factos" foram feitas "acusações e insinuações graves, algumas das quais caluniosas" contra a "honra" e o "trabalho sério, profissional e competente" que a equipa do anterior conselho de Administração desenvolveu ao longo de 18 meses.
Segundo Isabel dos Santos, "após quatro slides muito genéricos e superficiais sobre a performance da empresa e do setor petrolífero em Angola, a conferência de imprensa rapidamente deixou de concentrar naquilo que deveria ser o seu propósito".
Para a empresária, as tentativas de Carlos Saturnino - que tinha sido anteriormente exonerado de funções na Sonangol por Isabel dos Santos - de reescrever a história são consequência, no seu entender, "de um retorno em força da cultura de irresponsabilidade e desonestidade que afundaram a Sonangol em primeiro lugar".
Queixa-crime
Em entrevista ao jornal português Negócios, Isabel dos Santos afirmou entretanto que vai apresentar uma queixa-crime contra o presidente da Sonangol: "Estou neste momento a trabalhar com advogados nesse sentido e apresentarei essa queixa em função das afirmações e alegações que foram feitas. São difamatórias. Sem dúvida", disse.
Na mesma entrevista, a ex-presidente do conselho de administração da Sonangol afirma ainda que está "confortável" com o inquérito aberto pela Procuradoria-Geral da República de Angola.
"Estou completamente confortável com o procedimento em si. Acho que é bem-vindo. Agora, foi com muito espanto que acompanhei as declarações feitas na conferência de imprensa. As palavras do presidente do conselho de administração atual, Carlos Saturnino, para mim, foram chocantes. Faltaram imenso à verdade", salientou.
"Uma das afirmações era a de que poderiam existir instruções que teriam ocorrido após a minha cessão de funções como presidente da Sonangol. Isso é falso", disse.
Gastos exorbitantes?
Na conferência de imprensa da semana passada, Carlos Saturnino acusou também a gestão de Isabel dos Santos de gastos exorbitantes em serviços de consultoria, em remunerações salariais dos administradores, bem como a falta de transparência no processamento salarial.
Sobre estas e outras acusações, Isabel dos Santos respondeu, em comunicado, que o investimento realizado em consultoria foi o mais baixo até à data e traduziu-se em valor acrescentado e com impacto concreto da rentabilidade da Sonangol.
Este impacto, referiu, levou à identificação de mais de 400 iniciativas de redução de custos e mais de 50 iniciativas de aumento de receitas, as quais, conjuntamente, afirmou, permitiram melhorar os resultados em 2.200 milhões de dólares.