Isabel dos Santos no paraíso fiscal da Madeira
15 de fevereiro de 2017A rádio televisão pública do Estado federado alemão da Baviera, Bayerischer Rundfunk (BR), publicou na sua página online uma série de investigações sobre as consequências do sistema fiscal da Madeira para a economia da ilha. A conclusão dos jornalistas é peremptória: longe de criar emprego e gerar riqueza para os madeirenses, o sistema autorizado pela Comissão Europeia em 1987, um ano depois de Portugal aderir ao que é hoje a União Europeia (UE), fomenta sobretudo a fuga aos impostos de grandes empresas e magnates internacionais.
Um exemplo citado com destaque na documentação é o da filha do Presidente angolano José Eduardo dos Santos. Segundo o artigo do BR, o nome de Isabel dos Santos aparece "direta e indiretamente” ligado a várias empresas na ilha. O BR lembra que dos Santos "não é só a mulher mais rica de África. É também presidente do conselho de administração da empresa estatal petrolífera angolana Sonangol. A Sonangol está ligada a numerosas empresas registadas na Zona Franca da Madeira.”
O BR descobriu ainda o registo de uma empresa que pertence diretamente à filha do Presidente: a NIARA Holding. Também o marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo, tem várias firmas com sede na Madeira. Sem surpresas, Isabel dos Santos recusou-se a prestar declarações aos jornalistas do BR sobre o propósito do registo madeirense.
Antes de 2013, as empresas registadas na ilha não pagavam qualquer imposto. Mas protestos dentro da União Europeia levaram a Comissão a reconsiderar. Ainda assim, o estatuto de zona franca permite às empresas na Madeira pagar apenas um imposto reduzido de 5% sobre os lucros auferidos. Há quem acuse a UE de hipocrisia por levar a cabo campanhas contra paraísos fiscais em todo o mundo, mas autorizar a Madeira a servir de refúgio fiscal.
A Comissão mantém que o regime especial permite a criação de empregos na Zona Autónoma da Madeira, considerada a região mais pobre de Portugal. Mas a investigação do BR chega à conclusão que, desde que vigora o estatuto, praticamente não foram gerados empregos. Sobretudo não num número suficiente para compensar a perda de receitas fiscais em muitos países, como Angola, que delas necessita com urgência para melhorar a qualidade de vida das populações pobres e marginalizadas.