Isabel dos Santos pode candidatar-se às eleições de 2022?
17 de janeiro de 2020Numa entrevista concedida à cadeia televisiva portuguesa RTP, na quarta-feira (15.01), a empresária angolana Isabel dos Santos deixou em aberto a possibilidade de se candidatar à Presidência da República nas eleições gerais de 2022.
Em declarações à DW África, o constitucionalista angolano Manuel Pinheiro diz que "não vê qualquer inconveniência". A dupla nacionalidade de Isabel dos Santos é o ponto que tem provocado mais polémica. Mas o jurista esclarece que o impedimento previsto na lei angolana não se coloca no seu caso porque a empresária tem cidadania originária de dois países: Angola e Rússia.
"Mesmo a própria Constituição proíbe a cidadania adquirida. Adquirida por naturalização, por adoção, por casamento ou por regularização extraordinária por prestação de serviços relevantes a qualquer país. Ela não se enquadra em nenhum destes casos. Ela é cidadã de origem angolana e é cidadã de origem ao que se diz de uma cidadã russa", explica.
Os candidatos às eleições presidenciais em Angola devem ser os cabeça de lista de um partido ou coligação de partidos, de acordo com a lei.
Manuel Pinheiro não vê a possibilidade de Isabel dos Santos concorrer na lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder. Assim, segundo o jurista, caso reúna as condições, a multimilionária poderá concorrer por outra força política.
"Penso que está descartada qualquer possibilidade de ela ser a candidata do MPLA, uma vez que o MPLA já tem uma direção e tem um candidato [João Lourenço], que inclusivamente já manifestou a sua pretensão de se candidatar à sua sucessão em 2022", sublinha.
"Isabel dos Santos é uma fera ferida"
Porque pretende Isabel dos Santos candidatar-se ao cargo de Presidente da República de Angola? O ativista e investigador Nuno Álvaro Dala, do caso "15+2", aponta três cenários possíveis: a suposta cisão que se regista no seio do MPLA, dar continuidade ao legado do seu pai José Eduardo dos Santos e "um plano de vingança política que visa naturalmente fazer sentir toda uma vontade em conseguir o poder para promover transformações".
Depois do arresto das suas contas, lembra o ativista, "Isabel dos Santos é uma fera ferida".
Outra pergunta que se faz na sociedade angolana é se Isabel dos Santos terá aceitação popular em função da imagem do seu pai, associada a atos de corrupção e má gestão da coisa pública. Nuno Dala não tem dúvidas de que a empresária "partirá em desvantagem caso venha a candidatar-se".
"Ela é um exemplo acabado daquele processo que beneficiou um pequeno grupo que se enriqueceu de uma forma bastante violenta e, naturalmente pornográfica e imoral. Não existe autoridade moral nem ética em Isabel dos Santos, porque a sua riqueza foi construída à custa de todo um sacrifício de um povo", critica.