Joe Biden: "Vamos ser uma nação unida, uma nação sarada"
8 de novembro de 2020O Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu na noite de sábado (07.11) que é tempo de sarar e unir a América e de fazer com que o país volte a ser respeitado no mundo. No seu primeiro discurso após o anúncio no sábado da vitória nas eleições presidenciais de terça-feira, Biden prometeu ser o Presidente de todos os americanos, os que votaram nele e os que votaram contra.
Dirigindo-se aos eleitores que votaram no Presidente e candidato republicano, Biden disse: "compreendo a vossa desilusão esta noite. Eu também já perdi um par de vezes, mas agora vamos dar uma oportunidade uns aos outros".
Afirmando que esta noite "todo o mundo está a olhar para a América", o Presidente eleito dos Estados Unidos disse que o seu país "é um farol para o mundo".
"Restaurar a alma da América"
"Concorri a este cargo para restaurar a alma da América, para reconstruir a espinha dorsal desta nação, a classe média, para fazer a América respeitada no mundo outra vez, e para nos unir aqui em casa", afirmou perante uma multidão em Wilmington, no estado de Delaware.
Após ser apresentado pela vice-Presidente eleita, Kamala Harris, que disse que Biden seria "Presidente de todos os americanos", o Presidente eleito reclamou uma "vitória clara, uma vitória convincente".
Lembrou que, com 74 milhões de votos contados, é o Presidente eleito com mais votos na história dos Estados Unidos. Prometeu ser um chefe de Estado "que não procura dividir, mas sim unir, que não vê estados vermelhos ou azuis, mas apenas os Estados Unidos". "Vou trabalhar tanto para os que não votaram em mim como nos para os que votaram", garantiu.
O democrata disse ser tempo de os dois lados "se ouvirem outra vez". "É tempo de pôr a retórica dura de lado, baixar a temperatura, olharmos uns para os outros outra vez e fazer progressos. Temos de parar de tratar os nossos opositores como inimigos. Não são nossos inimigos, são americanos", afirmou.
Controlar a pandemia
Sublinhando que a sua primeira tarefa será controlar a pandemia do novo coronavírus, Biden disse que essa é a única forma de voltar a uma vida normal e anunciou a criação de um grupo de cientistas de topo e especialistas para ajudarem a definir o plano de ação que entrará em vigor em 20 de janeiro, quando Biden e Harris tomam posse.
Ainda se referindo à pandemia, o Presidente eleito, que é católico, citou o hino católico preferido do seu filho Beau, que morreu de cancro em 2015, desejando que essas palavras reconfortassem todos os norte-americanos que choram a morte de entes queridos devido ao novo coronavírus.
No final do seu discurso, Biden apelou novamente ao espírito de união: "Vamos ser a nação que sabemos que podemos ser. Uma nação unida, uma nação reforçada, uma nação sarada. (...) Nunca houve nada que tivéssemos tentado e não tivéssemos conseguido quando o fazemos juntos".
Joe Biden foi anunciado no sábado (07.11) como vencedor das eleições presidenciais de 3 de novembro, segundo projeções dos 'media' norte-americanos. Segundo as projeções, Biden totaliza 290 "grandes eleitores" do Colégio Eleitoral, derrotando o candidato republicano e atual Presidente Donald Trump. A posse de Biden como 46.º Presidente dos Estados Unidos está marcada para 20 de janeiro de 2021.
"Sou a primeira mulher no cargo, mas não serei a única"
Entretanto, a vice-Presidente eleita dos Estados Unidos, Kamala Harris, afirmou no discurso da vitória que, sendo a primeira mulher a aceder ao cargo, não será a última. Harris agradeceu aos norte-americanos por terem votado pela "esperança, unidade, decência, ciência e verdade" para iniciar "um novo dia" no país.
"Embora possa ser a primeira mulher neste cargo, não serei a última. Porque cada menina que nos vê esta noite, vê que este é um país de possibilidades", disse, em Wilmington, no estado do Delaware.
Vestida de branco como as sufragistas, no mesmo ano em que se comemorou o centenário do direito das mulheres a votar nos Estados Unidos, Harris garantiu que não teria chegado a este momento sem aquelas ativistas e sem os milhões de norte-americanas que votaram nas presidenciais de 3 de novembro.
A vice-Presidente eleita prestou também homenagem a "gerações de mulheres, negras, asiáticas, brancas, latinas e nativas norte-americanas que, ao longo de toda a história, abriram caminho para o momento desta noite".
A ainda senadora democrata pelo estado da Califórnia proferiu o discurso antes da intervenção do Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, a quem agradeceu por ter "tido a audácia" de "escolher uma mulher como vice-Presidente".
Harris comprometeu-se a trabalhar "para salvar vidas e derrotar a pandemia" de Covid-19, para reconstruir a economia e combater a crise climática e para "eliminar a raiz do racismo sistémico no sistema de Justiça e na sociedade" norte-americana, razão dos protestos deste ano nos Estados Unidos.
No início da intervenção, Kamala Harris citou o líder do movimento dos direitos cívicos John Lewis, que morreu este ano: "A democracia não é um estado, é um ato", usando esta citação para refletir sobre "a luta e o sacrifício" que implicam proteger esta forma de Governo.
Festa nas ruas dos EUA
Milhares de pessoas foram para as ruas de várias cidades norte-americanas, incluindo Los Angeles, Nova Iorque, Filadélfia, Atlanta e Washington, D.C., para festejarem a eleição de Joe Biden como próximo Presidente dos Estados Unidos da América.
As celebrações incluíram música, danças, champanhe e multidões reunidas em locais que até há pouco tempo estavam vazios por causa da pandemia de Covid-19, tal como e baixa de Los Angeles.
Em Nova Iorque, viveu-se um ambiente de festa que não se via na cidade há muito tempo, principalmente depois de esta ter sido uma das cidades mais afetadas pela primeira vaga da pandemia de Covid-19.
O bastião democrata da costa leste foi palco de diretos sucessivos nas televisões, que mostravam muitas pessoas com máscaras, bandeiras, cartazes pró-Biden e Harris, com expressões de grande euforia e esperança no futuro.
Em Washington, D.C., as pessoas manifestaram a sua alegria na praça Black Lives Matter, onde houve festa rija, e junto à Casa Branca, que continuará a ser ocupada por Donald Trump até 20 de janeiro. O Presidente ainda não fez qualquer declaração de derrota ou concessão.
Líderes parabenizam Biden
No exterior, o resultado das eleições norte-americanas também suscitou reações entusiásticas. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, felicitou Joe Biden "calorosamente" e garantiu que Bruxelas está "pronta a intensificar a cooperação com a nova administração", enquanto o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse ser "um grande dia para os Estados Unidos e a Europa".
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, saudou a eleição de Biden, que classificou como um "forte apoiante das relações transatlânticas", recordando que "a liderança dos EUA é tão importante como sempre num mundo imprevisível".
O Presidente francês, Emmanuel Macron, e os chefes dos Governos do Canadá, Justin Trudeau, do Reino Unido, Boris Johnson, de Itália, Giuseppe Conte, foram outros líderes mundiais que já saudaram a vitória de Biden nas eleições norte-americanas.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, também felicitou a vitória de Biden, salientando a importância da "amizade transatlântica" entre Washington e Berlim para ultrapassar os "grandes desafios atuais".
Em África, as felicitações foram acompanhadas de anseios para o futuro: "Também chegou a hora de dar às nossas mulheres a chance de ocupar um cargo tão alto no nosso país e até mesmo a posição de número um", disse o ministro do Gabinete da Nigéria, Festus Keyamo, no Twitter, referindo-se à Kamala Harris.
"Kamala Harris ilumina o túnel para muitas mulheres que continuam a defender a igualdade de gênero e inclusão na liderança", escrever no Twitter Anne Waiguru, uma das duas governadoras do Quénia, onde o presidente da Suprema Corte aconselhou o Presidente do país a dissolver o Parlamento por não ter deputadas suficientes.