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Jorge Carlos Fonseca quer ser um presidente “ganhador” em Cabo Verde

4 de agosto de 2011

Candidato apoiado pelo MpD, da oposição, é o único a repetir a corrida à Presidência. "Rachadura" no partido governista PAICV poderia beneficiar resultados de Fonseca.

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Jorge Carlos Fonseca, apoisado pelo maior partido cabo-verdiano da oposição, o MpD
Jorge Carlos Fonseca, apoisado pelo maior partido cabo-verdiano da oposição, o MpDFoto: Daniel Almeida

Coincidência ou não, Jorge Carlos Fonseca fez uma declaração lembrando José Mourinho, o treinador português do clube de futebol espanhol Real Madrid, na localidade de Mourinho, na ilha do Maio (sul). “O país precisa de um Mourinho – com ambição para Cabo Verde, com audácia, com ousadia, que ajude uma política externa ousada, com metas elevadas”, afirmou o candidato, apoiado pelo maior partido da oposição em Cabo Verde, o MpD (Movimento para a Democracia).

Mal chegou à cidade de Porto Inglês, na ilha do Maio, Jorge Carlos Fonseca foi cumprimentado por um vidente guineense. A conversa não foi gravada. No entanto, aos jornalistas, o candidato afirmou: “Encontrei um senhor que me disse: ‘você não se preocupe muito, está ganho’. Talvez a adivinhação deste senhor Mamadou seja uma adivinhação certa”.

Jorge Carlos Fonseca é o único dos quatro candidatos cabo-verdianos que repete a corrida à Presidência – em 2001, concorreu sem apoios partidários como independente, mas não passou ao segundo turno (disputado entre Carlos Veiga e Pedro Pires, atual presidente cabo-verdiano que cumpre o último mandato permitido pela Constituição).

Por causa de uma espécie de “rachadura” política na formação partidária governista PAICV /(Partido Africano para a Independência de Cabo Verde), observadores acreditam que Fonseca terá uma oportunidade mais favorável nas eleições de 7/8. A divisão - oficialmente, o partido apoia Manuel Inocêncio Sousa, mas parte da formação partidária manifestou apoio ao independente Aristides Lima - daria força a Fonseca e ao segundo maior partido do país, o MpD.

Presidente Pedro Pires (esq.) vota nas legislativas (fevereiro/2011). Sucessor será escolhido em 7/8
Presidente Pedro Pires (esq.) vota nas legislativas (fevereiro/2011). Sucessor será escolhido em 7/8Foto: picture-alliance/dpa

Candidato “beijoqueiro”


Jorge Carlos Fonseca tem privilegiado ações porta a porta e comícios por todo o país. Por onde passa, faz questão de distribuir prospectos com a sua fotografia e mensagem, abraços e beijos. “Há alguns anos, me chamavam ‘beijoqueiro’. Então estou a conter-me um pouquinho mais. [Mas] o ambiente às vezes favorece os abraços e os beijos. A campanha também é uma festa. Afetos: Isso também faz parte de uma campanha eleitoral”, disse à Deutsche Welle.

A um dia do encerramento da campanha, Jorge Carlos Fonseca considerou que o apoio à sua candidatura está aumentando. Segundo a agência noticiosa Lusa, o candidato assumiu que sua estratégia passa por dizer que ele está a um passo de vencer as eleições presidenciais de 7/8 na primeira volta: “O normal é dizer que o balanço [da campanha] é muito positivo. Mas é mesmo. Nós estamos a consolidar a base de apoio do principal partido que nos apoia, o MPD”, explicou o candidato à Deutsche Welle. A idéia, porém, seria pelo menos garantir a presença no segundo turno.

Segundo Fonseca, sua candidatura também recebeu apoio do grupo independente para a Mudança e o Desenvolvimento do Sal. Muitos independentes, de acordo com ele, e militantes do UCID (União Cabo-verdiana Independente e Democrática, partido de orientação liberal, ativo especialmente no exterior) têm manifestado apoio a Fonseca. A adesão incluiria até alguns membros do PAICV.

Mandato de influência

O candidato presidencial Jorge Carlos Fonseca assegurou que, se for eleito, será uma voz de cooperação com o governo, atenta aos problemas reais do país, imparcial e autônoma e que será um presidente “junto das pessoas” – o slogan da campanha.


Fonseca diz que quer exercer uma magistratura de influência, de moderação e de arbitragem do sistema político. “A campanha [foi] sempre para a positiva, discutindo os problemas dos jovens, os problemas do desemprego, os problemas do crescimento da economia, os problemas da segurança, da Justiça, da política externa, das comunidades cabo-verdianas na diáspora...”.

Sério, mas irrequieto

Jorge Carlos Fonseca já foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde entre 1991 e 1993, época em que o MpD chegou ao poder e quando se introduziu o multipartidarismo no arquipélago. Na altura, levou o país ocidental africano ao Conselho de Segurança das Nações Unidas pela primeira vez.

O candidato – considerado um dos protagonistas da transição democrática em Cabo Verde – é considerado sério nos trabalhos que apresenta, mas sempre irrequieto. Costuma-se vê-lo de fato, porém a campanha eleitoral apresentou um Jorge Carlos Fonseca vestindo mais “t-shirts” e mais “solto".

Em Mourinho, por exemplo, Jorge Carlos Fonseca mostrou os dotes de um candidato dançarino. Animado, afirmou: “Faço jeito. Neste ambiente, só me falta beber um grogue [aguardente de cana de açúcar] – estou de férias. Mas estou a ver que vai ser difícil sem tomar um groguinho [sic] também”, disse.

Autor: Nélio dos Santos (Cidade da Praia) / com agência Lusa
Edição: Renate Krieger / António Rocha

Segundo a imprensa internacional, "rachadura" no partido governista PAICV poderia beneficiar Fonseca
Segundo a imprensa internacional, "rachadura" no partido governista PAICV poderia beneficiar FonsecaFoto: Daniel Almeida