Jornais alemães publicam artigos sobre a África do Sul, Quénia e Mali
24 de agosto de 2012"A mina de Marikana transformou-se num campo de batalha. Os operários já não aceitam as condições de trabalho e estão determinados em denunciar tudo o que vai mal na sociedade sul-africana" - é com estas palavras que o correspondente do Süddeutsche Zeitung inicia um artigo intitulado "Terra de inimigos".
Um golpe no coração da nação sul-africana
O jornal prossegue da seguinte forma: "São dias de desespero que se vivem na África do Sul. A polícia disparou com armas automáticas sobre um grupo de mineiros e matou 34. Trata-se de um atentado contra a jovem democracia sul-africana. 18 anos depois do fim do regime de apartheid, as feridas ainda não estão completamente cicatrizadas. O massacre de Marikana veio agora dar novos golpes no coração desta jovem nação. E muitos pensavam que golpes desses já não tivessem lugar nos dias de hoje e pertencessem apenas a um passado obscuro."
Quénia: Quem controla as margens do rio Tana?
O mesmo Süddeutsche Zeitung debruça-se sobre outro conflito violento, nomeadamente no Quénia, onde pelo menos 48 pessoas perderam a vida, na sequência de violentos conflitos em torno da posse de terrenos, na região de Mombaça. Na reportagem intitulada "sangrenta disputa de terras" pode-se lêr o seguinte: "Tudo aconteceu no longínquo sudeste do Quénia, mas arrastou para o centro das atenções um conflito que já se faz sentir há muito tempo naquele país leste-africano.
Representantes das etnias Pokomo e Orma envolveram-se numa autêntica batalha, na aldeia de Reketa, no distrito de Tana River. Incendiaram casas, mataram homens, mulheres e crianças, assim como abateram mais de 60 cabeças de gado. O conflito não é novo e tem raizes étnicas, religiosas e culturais: Os Orma são muçulmanos e vivem da agro-pecuária. Os Pokomo são cristãos e vivem sobretudo da pesca. Os conflitos têm a ver com o controlo de terras nas margens do rio Tana. Já há 10 anos se tinha registado uma onda de violência entre os dois povos que na altura vitimou cerca de 130 pessoas."
Mali: Novo governo vai concentrar-se na reconquista do norte do país
O Frankfurter Allgemeine Zeitung dedica algum espaço à situação no Mali, onde o presidente do governo de transição, Dioncounda Traoré, formou um novo governo de unidade nacional, transpondo assim uma exigência da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). O jornal comenta: "O novo governo de unidade nacional era uma das exigências prévias, para que se possa unir o país que se encontra práticamente dividido, depois da ocupação do norte pelos islamistas radicais. A prioridade continua a mesma: a reconquista rápida do norte do país. No novo governo estão representadas praticamente todas as forças políticas do país. Entre os 31 ministros encontram-se 4 mulheres e pela primeira vez também um detentor da pasta para os assuntos religosos. Na posição de primeiro-ministro continua Cheik Mobido Diarra."
O diário die tageszeitung, de Berlim comenta também a situação no Mali: "A era dos avanços e recuos acabou no Mali. O novo governo de unidade nacional foi empossado e agora o Mali vai poder concentra-se no que é essencial: o combate aos diferentes grupos islamistas, entre eles o movimento nacional para a libertação de Azawad, controlado por rebeldes tuaregues. Recorde-se que fazem parte do novo elenco governamental também várias personalidades ligadas aos organizadores do golpe militar de 22 de março. Todos em conjunto terão que debater a seguinte questão: será uma intervenção militar no norte uma solução viável para o Mali?"
Autor: António Cascais
Edição: António Rocha