"João Lourenço não faz nada de extraordinário", diz oposição
24 de agosto de 2018No final da visita de dois dias à Alemanha, encerrada esta quinta-feira (23.08) foram assinados memorandos de entendimento para reforçar a cooperação económica e aumentar o financiamento alemão ao Estado angolano. Em 2011, a oposição criticou a proposta de venda pela Alemanha de barcos-patrulha à Angola e o negócio não foi efetuado, mas, segundo o Presidente angolano, João Lourenço, os constrangimentos do passado foram ultrapassados.
O deputado Lindo Bernardo Tito, vice-presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), a terceira força política do país, avalia que os compromissos internacionais assumidos por João Lourenço no exterior terão enormes encargos para o futuro do país.
"O atual Orçamento Geral do Estado é financiado na ordem de 40% com endividamento interno e externo. Isto que está a acontecer é trazer mais encargos para o país. O país precisa hoje neste quadro olhar para questões essenciais, como a saúde e educação", afirma.
Para o vice-presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Raúl Danda, a governação de João Lourenço não está direcionada aos problemas da população.
"Estamos a ver um país que está mais preocupado em gastar milhões para comprar um satélite do que para comprar medicamentos de combate à malária. Estamos a ver um Governo mais preocupado em criar datas e fazer um marketing para o exterior do que resolver os problemas reais do país. Qualquer Governo deveria primeiro preocupar-se com a situação das suas populações e depois fazer o resto", sublinha.
'Para inglês ver'
Em entrevista exclusiva à DW África, João Lourenço afirmou que muito foi feito nos seus primeiros 11 meses de governação, até mais do que o esperado. Mas para o vice-presidente do maior partido da oposição angolana, Raúl Danda, as ditas "conquistas" do Presidente são um espetáculo para inglês ver.
"O que o Presidente João Lourenço tem estado a fazer até agora é exonerar e nomear pessoas. Para lá disto, não estamos a ver muito mais. É verdade que agora há nomes de pessoas que estão a ser investigadas e são constituídas arguidas, mas repare, eu acho que o Presidente está a envederar numa caça às bruxas", afirma.
"Tem muitas outras pessoas no país que se enriqueceram de forma ilícita e não são responsabilizadas. Continuamos a ver aquelas pessoas de nível mais baixo, que roubaram um cabrito ou uma galinha ou aquele funcionário público que desviou uma ninharia a serem postos na cadeia, quando outras pessoas não. Isso não significa rigorosamente nada. Isso é um show-off, é conversa para boi dormir, é para inglês ver", acrescenta.
Segundo Raúl Danda, só haverá mudança efetiva em Angola quando o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) sair do poder. "Isto é só uma brincadeira. Eu não sei como alguém fora de Angola consegue acreditar que o Presidente João Lourenço esteja a fazer alguma coisa de extraordinário. Não está. Será por que ele ainda não é presidente do MPLA e quer fazer isso depois? Com o MPLA, cai uma pessoa e entra outra, mas o sistema continua a ser o mesmo. E, enquanto o sistema continuar o mesmo, havemos de ter dificuldades no país", critica.
Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE, pondera que o Presidente angolano montou uma estrutura para afirmar a sua autoridade. "O que ele fez demais é afirmar a sua autoridade como Presidente da República, mas um conjunto de questões sociais ficou para ser feito neste primeiro ano de mandato. Aumentaram a fome no país, as falhas no setor da educação e a falta de qualidade das unidades médicas no país", observa.
Para o economista angolano Precioso Domingos, os angolanos poderão saber em breve quem de facto é João Lourenço. "Vem aí o Congresso do MPLA. O Presidente João Lourenço vai se tornar presidente do MPLA já amanhã e vai ter todos os poderes. Nós vamos conhecer melhor o Presidente João Lourenço depois de setembro. Eu, particularmente, tenho muitas expetativas", diz.