Julius Nyerere: o líder africano incansável
13 de janeiro de 2018Viveu: no Tanganica, que mais tarde se tornou Tanzânia, onde nasceu (em Butiama), em 1922. Estudou para ser professor na Universidade Makerere, no Uganda; e Economia e História na Universidade de Edimburgo. Morreu em Londres em 1999.
Reconhecido:
- Pelo seu nome suaíli "Mwalimu", que significa "professor". Nyerere deu aulas de Biologia e Inglês durante três anos antes de conduzir o Tanganica à independência. Foi o primeiro Presidente da Tanzânia unida.
- Pela sua paixão incessante por uma África unida. Contrariamente a Kwame Nkrumah do Gana, Nyerere optou, numa primeira fase, pela união regional da África Oriental. Já Nkrumah defendeu a união direta e completa do continente. Juntos idealizaram a Organização da União Africana.
- Pelo apoio dado aos africanos que lutaram pela liberdade. Depois de conquistar a independência para o seu país, Nyerere seguiu o seu ideal pan-africanista acolhendo e apoiando as rebeliões armadas contra os regimes de Moçambique, África do Sul, Namíbia, entre outros.
- Por ter traduzido William Shakespeare para suaíli.
A reter: durante a Guerra Fria, Nyerere não tomou partidos. Quando a República Federal Alemã pediu ao seu país que cortasse laços com a República Democrática Alemã, como previa a Doutrina de Hallstein, Nyerere recusou, correndo o risco de perder a ajuda alemã, e insistindo na soberania da Tanzânia. Nyerere disse que o seu país "não aceitaria ajuda que implicasse compromissos".
Criticado por: suprimir a opinião dissidente, abandonar outros lutadores da liberdade e ficar com toda a glória para si mesmo. Pensa-se também que Nyerere tenha estado contra a influência dos líderes islâmicos na Tanzânia. A sua política "Ujamaa" não foi bem sucedida na mudança do panorama económico da Tanzânia. Em 1985, Nyerere aposentou-se para abrir caminho para ajustes estruturais económicos no seu país.
Ujamaa: com base na sua experiência como filho de uma grande família e a sua imersão no pensamento socialista da Sociedade Fabiana britânica, Nyerere desenvolveu um sistema de socialismo africano que previa a conexão do socialismo com a vida comunitária africana. O nome "Ujamaa" deriva do termo "família" em suaíli. Em contacto com Jomo Kenyatta do Quénia, Nyerere esteve disposto, a determinada altura, a deixá-lo ser o líder da África Oriental. Ofereceu-se mesmo para atrasar a independência do Tanganica para aguardar a independência dos três países da África Oriental na esperança de unificá-los. Os outros líderes da África Oriental não permitiram que isso acontecesse, o que não impediu Nyerere de perseguir o seu objetivo. Nyerere concentrou os seus esforços na unificação dos múltiplos grupos étnicos da Tanzânia e conseguiu-o, por exemplo, através do uso do suaíli como língua nacional.
Frases famosas:
"Uhuru na kazi (Liberdade e trabalho)".
"Nenhuma nação ou povo tem o direito de tomar decisões por outra nação ou povo".
"A união não nos tornará ricos, mas pode fazer com que seja difícil para África e os seus povos serem desconsiderados e humilhados".
"A educação não é uma maneira de escapar à pobreza, é uma maneira de lutar contra ela".
"Se o desenvolvimento acontecer, as pessoas devem estar envolvidas".
No auge da luta da independência no continente africano, poucos nomes podem ser comparados ao de Julius Kambarage Nyerere. Em 1922 nascia em Butiama, na colónia britânica Tanganica, Kambarage, mais conhecido por Julius Nyerere. Filho de um chefe do povo Zanak, Nyerere teve um papel crucial não só na política do seu país, mas também ao nível do continente africano.
Nyerere estudou para ser professor na Universidade Makerere, no Uganda, tendo, mais tarde, e antes de se tornar político, dado aulas de Inglês e Biologia. Por respeito, chamavam-lhe "Mwalimu", que significa "professor" em suaíli.
Em 1949, foi estudar para a Grã-Bretanha, tendo sido o primeiro cidadão do Tanganica a fazê-lo. No país dos colonialistas, Nyerere foi-se aproximando cada vez mais da política no seu país de origem. Numa luta sem derramamento de sangue contra o poder colonial britânico, alcançou a independência do Tanganica em dezembro de 1961. Tornou-se primeiro-ministro e foi eleito Presidente do país um ano depois.
No entanto, estava longe de ser um chefe de Estado comum. Quando questionado sobre o que planeava para o futuro do Tanganica, Nyerere afirmou "não estar a fazer planos". "Acho que isso está a ser planeado pelas próprias pessoas do Tanganica", acrescentou.
Enquanto se manteve no poder, Nyerere foi sempre uma pessoa humilde e com os "pés bem assentes na terra", frisa Victoria Bache, curadora assistente do Museu Nyerere, em Dar-es-Salaam. Segundo esta responsável, Nyerere "amava as pessoas. Não fazia discriminação, vivia como um plebeu. Há imagens dele a agarrar uma picareta, envolvendo-se na construção da nação com os outros".
Política "Ujamaa"
Por fazer parte de uma grande família, Nyerere acreditava que o caminho para alcançar a prosperidade económica era através da união. Por isso, desenvolveu no país um sistema de socialismo africano denominado "Ujamaa" - um modo de vida coletivo. Para implementar esta política, Nyerere moveu as pessoas das suas comunidades para aldeias artificiais Ujamaa, nem sempre com o consentimento dos moradores.
Outro passo para unir o povo da Tanzânia sob o chapéu da política "Ujamaa" foi a utilização de uma linguagem comum: o suaíli.
Ainda que as suas ideias não fossem consensuais, até mesmo os críticos de Nyerere têm coisas favoráveis a dizer a seu respeito, explica o historiador Said Mohammed. "No meu estudo, a qualquer pessoa que pergunte vai dizer-lhe que Mwalimu é especial. Ele é incorruptível! Não se importava com o dinheiro ou com a riqueza", afirma.
Julius Nyerere deixou a Presidência do seu país, voluntariamente, em 1985, e morreu em 1999.
O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.