Kagamé acusa RDC de violar acordos e fala em "hipocrisia"
9 de fevereiro de 2023O Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, acusou o seu homólogo da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, de ter "desonrado" vários acordos para ultrapassar a crise diplomática entre os dois países e a comunidade internacional de hipocrisia.
"Esta pessoa desonrou dezenas de acordos", disse Kagamé, referindo-se ao Presidente da RDC, durante um encontro com embaixadores e representantes diplomáticos em Kigali, capital ruandesa, durante o qual criticou também a "hipocrisia" e os "duplos padrões" da comunidade internacional, relatou esta quinta-feira (09.02) o jornal The New Times.
A tensão entre os dois países continua a aumentar, com a RDC a acusar o pais vizinho de colaborar com os rebeldes do Movimento 23 de março (M23), um grupo maioritariamente de tutsis congoleses que opera na província do Kivu do Norte, e o Ruanda a retorquir com acusações de que Kinshasa apoia as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), composta por hutus, responsáveis pelo genocídio de 1994 naquele país.
Diplomacia e política
"O que aprendi ao longo dos anos é que a política e a diplomacia são coisas muito estranhas [...] Não sei se é por causa da ordem mundial em que estamos agora, se sempre foi assim, mas em ambos os casos tende a falhar ou, melhor, as pessoas não se envolvem com a verdade", observou Kagamé.
Se a diplomacia e a política não conseguiram ajudar na resolução deste conflito, que remonta a quase três décadas, "porque devem estar dezenas de milhares de soldados da paz num só local durante mais de 20 anos, custando milhares de milhões de dólares" questionou também o Presidente do Ruanda.
Perante as alegações de que o Ruanda está a participar no conflito interno na RDC, Kagamé perguntou que interesse poderia ter o seu país nisso e acusou o outro lado de boicotar todos os esforços regionais para pacificar a região.
Violação de acordos
A RDC, afirmou, violou deliberadamente os acordos assinados nos últimos dois anos, incluindo o que foi alcançado na cimeira de Bujumbura, no Burundi.
"Discutimos as coisas abertamente, escrevemos uma declaração sobre o caminho a seguir, e no dia seguinte algo diferente é anunciado em Kinshasa", disse.
Por outro lado, avisou que continuará a usar todos os meios à sua disposição para evitar a presença no país da FDLR "genocida".