Kazuo Ishiguro ganha Prémio Nobel da Literatura
5 de outubro de 2017"Uma honra magnífica", foi como reagiu o escritor britânico Kazuo Ishiguro ao Prémio Nobel da Literatura, que lhe foi discernido hoje na capital sueca, Estocolmo. Sobretudo, disse à jornalista que lhe deu a notícia inesperada "porque significa que estou a seguir os passos dos grandes autores que existiram, e isso é um elogio espetacular".
Nascido no Japão em 1954, de onde emigrou com os pais para a Grã-Btretanha aos cinco anos, a experiência da transição de uma cultura para outra deixou marcas profundas na obra deste escritor. Os seus livros abordam repetidamente questões de identidade e memória e como ambas mudam conforme as circunstâncias. Ishiguro domina de forma rara uma escrita séria e profunda simultaneamente apelativa para o leitor geral. A obra "Os despojos do dia" em 1989, que ganhou prémios de prestígio, foi o seu primeiro grande sucesso. Mais tarde alcançou um um vasto público internacional graças à adaptação da história da relação entre um mordomo e o seu patrão para o cinema.
Cinema e literatura
Ao apresentar o vencedor da edição de 2017, Sara Danius da Academia Real Sueca disse que Kazuo Ishiguro "ganhou por uma razão muito simples: é um escritor fora de série e de grande integridade. Desde o início encontrou a sua voz. O seu estilo é preciso, muito sensível e até bastante delicado."
Segundo a instituição sueca, a escrita de Ishiguro é marcada por uma grande sensibilidade e cuidadosa contenção. Também o romance distópico "Nunca me Deixes", no qual introduziu subjacentemente a ficção científica no seu trabalho, foi adaptada com êxito ao cinema. A revista Time considerou esta uma das cem melhores obras de língua inglesa publicadas desde 1923.
Prémio consensualApesar do inglês não ser a sua língua materna, Ishiguro é tido como um dos melhores estilistas da sua geração. Não obstante, a sua vitória hoje surpreendeu os mundos literário e das apostas, que não o tinham em conta na lista dos favoritos. Mas Sara Danius da Academia Sueca defende a sua universalidade que o coloca entre os maiores autores europeus: "É um escritor muito interessante por várias razões. Se juntar a análise social e psicológica de Jane Austen a Kafka, o resultado é Ishiguro"
A escolha de Kazuo Ishiguro deverá reunir o consenso de críticos literários e leitores, ao contrário do que se passou no ano passado, quando a Academia deu o prémio ao cantor americano Bob Dylan, suscitando acesa controvérsia. Com a entrega do prémio a Ishiguro fica reforçada a dominância do inglês nos nóbeis da literatura: 24 autores anglófonos contra 14 francófonos, os segundo situados. José Saramago foi o único escritor de língua portuguesa galardoado com o Nobel.