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Líderes de protestos no Sudão são detidos por homens armados

AFP | Lusa | kg
8 de junho de 2019

Líder da ALC, principal força dos protestos, e dois membros do SPLM-N foram capturados depois de uma reunião com o primeiro-ministro da Etiópia em Cartum. Abiy Ahmed exige transição democrática consensual.

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Manifestantes protestam próximo ao quartel do Exército sudanês em CartumFoto: AFP/M. El-Shahed

Três líderes dos protestos no Sudão foram detidos por "homens armados" depois de um encontro com o primeiro-ministro da Etiópia, informaram este sábado (08.06) fontes próximas dos detidos. Abiy Ahmed foi à capital Cartum esta sexta-feira (07.06) para tentar resolver a crise entre os militares no poder e os organizadores das concentrações que exigem o afastamento dos generais.

Familiares relatam que Mohamed Esmat, líder da Aliança pela Liberdade e pela Mudança (ALC), principal força dos protestos, e Ismail Jalab, secretário-geral do Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM-N), foram detidos depois de uma reunião com o primeiro-ministro etíope.

Essam Abu Hassabu, membro do ALC, contou à agência de notícias AFP que "um carro com homens armados parou e levou Mohamed Esmat para um local desconhecido, sem dar explicações" quando o ativista saía da embaixada da Etiópia. Rachid Anuar, responsável do SPLM-N, afirmou que "homens armados" foram à casa de Ismail Jalab e levaram-no "para um destino desconhecido". Além de Jalab, Mubarak Ardul, porta-voz desse mesmo movimento, também foi capturado.

Testemunhas dizem que a ação foi liderada pelas Forças de Apoio Rápido (FAR), grupo paramilitar ligado ao conselho militar. Os paramilitares são liderados pelo vice-líder do conselho militar, general Mohamed Hamdan Dagalo. 

Na quarta-feira (05.06), as forças de segurança detiveram o vice-líder do SPLM-N, Yasser Amran, que foi integrante de uma antiga rebelião do sul que esteve em conflito com o poder central do antigo Presidente Omar al-Bashir. A prisão do ativista foi fortemente condenada pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Apelo para transição democrática

Após reunir-se com o presidente do Conselho Militar sudanês, general Abdel Fattah al-Burhane, e com os líderes dos protestos, o primeiro-ministro etíope pediu uma transição democrática "rápida" no país.

Durante a missão do primeiro-ministro etíope, os generais disseram que estão "abertos a negociações", mas a ALC estabeleceu algumas condições, como uma investigação internacional sobre os assassinatos de manifestantes ocorridos durante os protestos.

Äthiopien Sudan Premierminister Abiy Ahmed und General Abdel Fattah Al-Burhan Abdelrahman
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed (à esq.), em reunião com o general sudanês Abdel Fattah Al-Burhan Foto: Reuters/M. N. Abdallah

Militares e civis mantinham conversações sobre uma transição democrática liderada por civis, mas as negociações colapsaram quando paramilitares da FAR investiram contra os manifestantes na passada segunda-feira (03.06), matando dezenas de pessoas.

Esta sexta-feira, o Conselho de Paz e Segurança (CPS) da União Africana (UA) decidiu suspender o Sudão da organização "até a criação efetiva de uma autoridade de transição liderada por civis como única forma de permitir ao Sudão sair da crise atual", anunciou o representante da Serra Leoa e atual presidente do conselho, Patrick Kapuwa. As Nações Unidas também uma investigação sobre o derramamento de sangue no Sudão.

Segundo a oposição, 108 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas na repressão violenta dos protestos desde a segunda-feira passada. Já os militares dizem que o número de vítimas é de 61 pessoas.

Em meio a uma revolta popular sem precedentes desencadeada no final do ano passado, o Exército tomou o poder no Sudão a 11 de abril, destituindo o então chefe de Estado Omar al-Bashir. O Conselho Militar que assumiu o comando do país iniciou negociações com os líderes dos protestos em torno de uma transição pós-Bashir. As negociações foram suspensas a 20 de maio devido a divergências sobre a composição de um Governo de transição.