LAM pode estar a salvo com nova direção?
24 de julho de 2018A assembleia-geral da transportadora Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) nomeou esta segunda-feira (23.07) o engenheiro João Carlos Pó Jorge como novo diretor da transportadora nacional. A empresa controlada pelo Governo moçambicano justifica que a medida é necessária para assegurar o normal funcionamento da LAM.
A nova direção geral será formada por diretores nas áreas de operações, técnica, finanças, comercial, recursos humanos e sistemas de informação e aprovisionamento. "Estou convencido de que a escolha [de João Jorge] foi correta, mas a sua performance vai depender necessariamente do apoio que tem que receber da parte do Estado", afirmou em entrevista à DW África o especialista em aviação civil Alves Gomes.
A designação da nova direção segue-se à dissolução no início deste mês do Conselho de Administração da LAM, devido à corrupção e graves problemas financeiros. A empresa cancelou voos por falta de combustível, devido ao corte no abastecimento por parte dos fornecedores, que por sua vez não receberam os seus pagamentos.
A esses problemas, somam-se acusações formais contra o ex-ministro dos Transportes de Moçambique Paulo Zucula e o ex-presidente da LAM José Viegas por branqueamento de capitais na venda de aviões da fabricante brasileira "Embraer" à LAM, entre 2008 e 2010.
"A responsabilidade por tudo isso é do Governo moçambicano", critica Alves Gomes.
DW África: Como avalia a nomeação de uma nova direção para a LAM?
AG: Eu acho que finalmente se tomou uma medida correta relativamente ao futuro da LAM. A pessoa que foi escolhida para dirigir o conselho de administração não só tem experiência como tem capacidade para reorganizar a LAM. O engenheiro João Jorge tem um conhecimento profundo da empresa, mas levará algum tempo até que ele consiga estabelecer regras e gestão criteriosas, e que exigem uma grande disciplina e rigor do ponto de vista financeiro.
DW África: O que se pode esperar sobre a formação do novo conselho de administração?
AG: A informação que eu tenho é que a negociação foi feita com o engenheiro João Jorge para que lhe seja dada a liberdade e autonomia para ele escolher quem será o seu conselho de administração. Eu espero que assim seja, porque, dessa forma, vai poder-se pedir responsabilidades à pessoa que dirige o conselho. Vai ser ele a indicar as pessoas com quem irá trabalhar.
DW África: Quais serão os maiores desafios da nova direção da LAM?
AG: Em primeiro lugar, o principal acionista da LAM, que é o Governo, através do Instituto de Gestão das Participações do Estado, terá que injetar meios financeiros para que a empresa se mantenha a funcionar. Do ponto de vista de recursos humanos, a LAM possui técnicos com capacidade de manter a empresa a funcionar nas condições normais exigidas pela legislação e pelas regras técnicas da aviação civil. Não vai ser fácil para o engenheiro João Jorge. Estou convencido de que a sua escolha foi correta, mas a sua performance vai depender do apoio que necessariamente tem de receber da parte do Estado.
DW África: De que maneira deveria o Governo moçambicano posicionar-se frente à nova gestão?
AG: Em primeiro lugar, é permitir que o engenheiro João Jorge possa exercer uma administração e uma gestão independente e dar-lhe 100% de apoio em termos de permitir que ele faça aquilo que acha bem para a empresa. Ele é uma pessoa que conhece muito bem o interior e os problemas da LAM. Portanto, se tiver mão livre, vai conseguir pôr a LAM a funcionar. Porém, a LAM está numa situação desastrosa. Tem os cofres vazios e, na prática, vai ter que arrancar de abaixo do zero, e isso não é fácil.
DW África: Como pode a LAM reestruturar a sua capacidade financeira?
AG: É preciso uma injeção de capitais. Em primeiro lugar, é preciso que o Estado assuma as dívidas que a LAM tem até hoje e não atire esse fardo, essa carga negativa para cima da nova administração. Efetivamente, a responsabilidade por tudo isso é do Governo. Foi o Governo que andou a nomear administrações incompetentes, com gente que não tinha conhecimento da área para gerir a LAM.
Uma empresa aérea não é uma empresa de venda de ovos, nem coisas assim. É uma empresa que exige grande rigor. E as pessoas que lá estiveram e foram para lá nomeadas destruíram por completo aquilo que já tinha sido feito pelo próprio engenheiro João Jorge. É preciso não esquecer que o engenheiro João Jorge chegou em 2014 e, em 2016, a empresa estava a funcionar bem, com receitas. E, de repente, é nomeado um novo conselho de administração que colocou o engenheiro João Jorge na prateleira. Um bando de incompetentes.
DW África: A LAM tem potencial para se tornar uma empresa lucrativa?
AG: A LAM deveria ser uma empresa lucrativa, porque continua a ter o monopólio do espaço aéreo moçambicano. Com os preços que pratica, não se justifica que a empresa tenha chegado ao estado em que chegou de não ter o dinheiro de caixa diário para funcionar.