Liga denuncia asfixia deliberada de 44 detidos no Chade
18 de julho de 2020Em declarações à agência espanhola Efe, o presidente da Liga de Direitos Humanos chadiana, Max Loalngar, contradisse assim a versão de suicídio coletivo anunciada pelas autoridades chadianas, aquando do sucedido, em abril.
"Na véspera da morte destas 44 pessoas, um misterioso fumo invadiu a cela, pelas seis da tarde, e todos os prisioneiros começaram a tossir, tendo morrido 44 dos 58", adiantou o advogado, durante a apresentação do relatório da Liga sobre o sucedido, em N'Djamena, capital chadiana.
"Só à meia noite, os carcereiros foram retirar os sobreviventes", acrescentou.
A Liga considera que as 58 pessoas foram "detidas ilegalmente", mantidas numa mesma cela, a uma temperatura de 45 graus centígrados, e "asfixiadas deliberadamente até à morte".
O relatório apresentado este sábado (18.07) e intitulado "44 civis, vítimas de execuções sumárias e extrajudiciais em N'Djamena" põe em causa, em 41 páginas, a versão de suicídio coletivo das autoridades chadianas, questionada pela sociedade civil.
"Os resultados da autópsia realizada por um médico forense concluem que os terroristas consumiram substâncias letais durante a noite. Naturalmente, foi um suicídio coletivo", anunciou, em abril, o procurador-geral Yousouf Tome.
As 58 pessoas mencionadas foram detidas durante a operação militar "Ira de Bohoma", efetuada na região do Lago Chade, zona duramente atacada pelos radicais do Boko Haram e do grupo dissidente Estado Islâmico da Província da África Ocidental.
Os detidos foram transferidos para a prisão de N'Djamena a 13 de abril, morrendo, 44 deles, 48 horas depois.
A operação, na qual, segundo fontes militares, morreram 52 soldados e um milhar de terroristas, começou a 31 de março, em resposta a um ataque atribuído ao Boko Haram, que custou a vida a 116 soldados, até à data o mais mortífero contra as forças chadianas.
Segundo o presidente da Liga, os detidos "não eram, na realidade, membros da seita do Boko Haram" e "não estavam na posse de armas ou instrumentos suspeitos", sendo, "na maioria, agricultores, criadores de gado, pequenos comerciantes e pescadores das aldeias do Lago Chade", que regressava dos mercados semanais quando foram detidos.
O advogado instou as autoridades a libertarem os 14 sobreviventes e a fazerem uma investigação ao sucedido.