Liga Moçambicana dos Direitos Humanos dá nota positiva à cimeira EUA-África
7 de agosto de 2014
Em entrevista à DW África, Alice Mabota destaca os aspetos abordados nos seis painéis dedicados aos direitos humanos em África e faz um balanço pessoal e positivo da cimeira de Washington.
DW África: Quais são as principais preocupações que os diversos representantes da sociedade civil africana aí presentes estão levantando?
Alice Mabota (AM): Os aspetos dos Direitos Civis e liberdades de expressão, de associação e de manifestação, o respeito pela diversidade, a questão da homosexualidade em África, que é uma questão muito complicada em muitos países africanos, onde os homosexuais até são mortos... Preocupa-nos também a intolerância, a desigualdade, a tortura. Gostaríamos também de ver mais inclusão sócio-económica e de ver os Direitos Humanos mais e melhor respeitados. Na cimeira EUA-África foram estes e vários outros aspetos que foram abordados.
DW África: Os problemas específicos de África foram, portanto, tidos em conta durante a cimeira?
AM: Sim, mas não é fácil: temos ditadores em África.Temos os problemas da impunidade dos governantes em África. Quanto à reação dos Estados Unidos: Em algumas situações põem a mão, noutras não. Durante a cimeira, levantou-se a questão da "brutalidade" dos chineses. Nós em Moçambique também sofremos a brutalidade dos brasileiros, que exploram os nossos recursos, inclusivé humanos. Não é fácil lidar com todos estes problemas. Alguns dos participantes até perguntaram: Como é que o Presidente norte-americano, Barack Obama, pode lidar aqui com todos estes ditadores? E o que é que isto significa?
DW África: Nesses painéis, tem se falado de problemas comuns a muitos países africanos?
AM: Por um lado, temos problemas comuns em todos os países africanos. Erros praticados por todos os governantes. Temos um problema grave em comum que é a fragilidade das instituições dos Estados, em todas as suas dimensões. A maior parte dos países africanos têm constituições bonitas, têm leis bonitas, mas em nenhum dos países se põe em prática aquilo que é ratificado, excetuando, talvez, o caso do Botsuana.
DW África: O objetivo de apresentar as fragilidades, problemas e preocupações dos africanos em Washington seria levar os Estados Unidos a se posicionar em relação a eles?
AM: Não sabemos bem como o Presidente Obama aborda estas questões. Como é que ele fala, por exemplo, com o meu chefe de Estado, que é um dos mais ricos de África, depois de 10 anos de poder? Como é que ele enriqueceu tanto? Porque é que ninguém lhe diz nada?
DW África: A expectativa é que os Estados Unidos levem esses problemas em consideração na hora de fazer negócios em África?
AM: É muito difícil abordar estes temas, porque os africanos não entendem e os Estados Unidos estão numa posição frágil. A concorrência da China faz-se sentir. Os chefes de Estado africanos preferem lidar com a China. Porque a China não aborda a questão dos Direitos Humanos. A América tem esse problema de, moralmente, se sentir obrigada a focar esse aspeto dos Direitos Humanos.
DW África: O que a senhora considera ter sido o maior ganho da participação na cimeira Estados Unidos – África.
AM: Esta experiência que tivemos aqui na América deveríamos ter também na Europa. Gostaríamos de expor na Europa os mesmos problemas. Os Estados Unidos da América e os europeus deveriam formar um bloco para poderem ter mais peso em questões de Direitos Humanos e para poderem fazer alguma coisa.