Lisboa: Exposição demonstra identidade cultural étnica em Angola
Está patente na Casa de Angola em Lisboa a coleção de cerâmica de Andreia Pedro, inspirada nas várias máscaras culturais existentes em Angola. “Etuku” mostra os traços da identidade cultural étnica deste país.
Uma paixão antiga
Esta é a primeira mostra da jovem artista, natural de Luanda, formada em Design de Interiores e Cerâmica pela Escola Superior de Artes e Design de Lisboa. O gosto pela cerâmica vem do passado, ainda no ensino secundário, quando começou a ter o primeiro contacto com o barro. A exposição “Etuku” - que significa "origem" ou "Estou aqui" - estará aberta ao público até ao próximo dia 13 de julho.
Renascer Txikunza
Mukixi Wa Txikunza destaca-se na hierarquia das máscaras chokwé, no nordeste de Angola, considerado o patrono da Mukanda (Ritual de Iniciação Masculina). A artista angolana inspirou-se nela para produzir esta peça, uma das cinco que representam o renascer cultural elevado pelas mãos, como símbolo da força, da união, do respeito e da confiança.
Renascer Pwo
Também inspirada na máscara chokwe Mwana Pwo, usada em ocasiões especiais para educar, proteger e guiar os membros da sociedade. É um elemento forte na cultura angolana, associado às cerimónias dos rituais de iniciação masculina. Na aldeia, apresenta-se nas danças no terreiro para entretenimento de toda a comunidade.
Renascer Mukixi
Na cultura angolana, é como se fosse um gigante extraterrestre. Inspira-se no Mukixi da Lunda Chokwé, envolvendo um segredo pertencente aos homens. Apesar da sua feição feminina, nenhuma mulher a pode usar. A máscara serve para espantar os espíritos. Daí os tons fortes: vermelho e preto (sangue e luto) e um pouco de branco, símbolo da paz.
Renascer Mwana
Mwana é uma expressão que significa filho, mas representa a mulher ou a rapariga que floresce e garante a procriação. Ela encarna a ancestralidade feminina, usada em rituais de puberdade e fertilidade. Costuma ser exibida nas danças tradicionais.
Renascer Tchihongo
Símbolo da autoridade e espírito masculino da riqueza, usada pela linhagem familiar (do soba, passando pelos filhos ou sobrinhos). A máscara, que acompanha a Mwana Pwo, representa um antepassado de origem nobre. A sua função é trazer prosperidade à aldeia. “Procurei uma forma mais artística de abordar as máscaras tirando-as praticamente do lugar de conforto”, explica Andreia Pedro.
Máscara Ndemba
Da série de bases para candeeiros, destacamos esta peça. Originária da província do Uíge, representa uma figura humana meio sorridente, com gorro em mabela ornada com barba. É utilizada nos rituais de circuncisão. A sua função é testemunhar a transição dos circuncidados de um estado de total ignorância para o estatuto socialmente reconhecido. É usada em rituais funerários.
Ntiame: a Pátria
O mapa de Angola deu lugar a mais esta peça decorativa, a que se juntam as cores da bandeira nacional. O vermelho corresponde a sangue e energia, o preto a luto e respeito, e o branco – embora não faça parte das cores daquele símbolo nacional – representa a paz com dois lados mascarados.
Luwizano: a união
A exposição, que conta ainda com outros elementos decorativos como potes ou candeeiros de teto - onde as máscaras são abordadas de uma forma diferente -, encerra com Luwizano, que significa união. Trata-se de um conjunto de bases para velas, associado a um espelho em forma circular colocado no centro. Os potes, que fazem parte da coleção, recordam toda a linhagem de iniciação e da puberdade.