Um abraço em Lisboa à cantora Celina Pereira
23 de agosto de 2019Celina Pereira é considerada "um enorme tesouro" para Cabo Verde. A sua relação com a cultura cabo-verdiana é transversal, porque sempre se preocupou com a recuperação do património e das tradições da sua terra natal. Os artistas que a conhecem destacam o seu contributo para a classificação da morna a Património da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Na noite desta quinta-feira (22.08), cerca de uma dezena de músicos e amigos fizeram uma serenata, no B.Leza, em Lisboa, à também contadora de histórias, condecorada em 2003, pelo então Presidente português Jorge Sampaio, com a medalha de mérito (grau de comendadora) pelo seu trabalho na área da educação e da cultura cabo-verdiana.
Celina Pereira foi uma das impulsionadoras da ideia que levou o Governo de Cabo Verde a propor à UNESCO a classificação da morna como Património Imaterial da Humanidade,. reconhece a cantora cabo-verdiana e amiga Ana Firmino. "Aliás, a ideia parece que partiu dela. Portanto, ela é fundamental um elemento fundamental neste percurso", sublinha.
Humberto Ramos, pianista cabo-verdiano que fez a direção musical do concerto no B.Leza, em homenagem a Celina Pereira, trabalhou muitos anos com a artista, que está neste momento doente. E ambém recorda que Celina Pereira foi a primeira pessoa a bater-se para a elevação da morna a património mundial da Humanidade: "Ela até fez uma carta que apresentou às autoridades de Cabo Verde e, depois, é que isso andou para a frente."
"Enorme tesouro para Cabo Verde"
Celina Pereira, natural da ilha da Boa Vista, herdou a veia artística da família e tem uma cultura muito vasta em relação às músicas de Cabo Verde, que sempre tentou passar às novas gerações, salienta Ana Firmino. "Todos nós aprendemos e continuamos a aprender com Celina Pereira. Tenho uma grande admiração pela Celina", diz.
Para a cantora cabo-verdiana Vilma Vieira, "falar de Celina Pereira é o mesmo que falar do património cultural existente", ainda vivo fisicamente. "Celina Pereira foi, de todos os artistas, o que mais contribuiu para a divulgação num leque cada vez mais amplo em termos de arte - não só através da sua voz, da sua música, da sua sabedoria - de todos os costumes, de todas as tradições que ela sempre trouxe até ao presente e que muitos desconheciam. Não só as mais novas gerações como também as antigas", considera. Vilma Vieira não tem dúvidas: "Celina Pereira é um enorme tesouro para todo Cabo Verde."
"Ela cantava morna, rabolo, mazurca, batuque e funaná, passava pelos estilos todos de Cabo Verde", precisa Humberto Ramos. "Ela é transversal", elogia o músico, lembrando que os seus concertos eram didácticos e isso diferencia-a de outros artistas. "Ela não fazia só morna e coladeira. Fazia quase todos os estilos de música de Cabo Verde e explicando às pessoas cada estilo. E que podia transmitia aos mais novos coisas que desconheciam em termos tradicionais, em termos de poesia, em termos de histórias também."
"Um abraço à Celina"
O músico cabo-verdiano acha que é preciso que outras pessoas sigam os passos da cantora na promoção da morna. "O que sugiro é que, pelo menos, se criem condições para preservar a morna, porque se formos a analisar cada vez há menos pessoas interessadas na morna, há menos pessoas a tocar mornas. Porque só falar não chega", defende.
A serenata que teve lugar esta quinta-feira, no espaço cultural B. Leza, "é só um abraço à Celina", diz Humberto Ramos. A iniciativa também "serve para relembrar às pessoas que a Celina Pereira continua a precisar de carinho. As pessoas podem ir visitá-la, podem ir conversar com ela, tocar para ela, fazer-lhe serenatas. As pessoas podem ir ter com ela porque ela fica muito contente com as visitas", apela.
Na semana passada, a cantora foi homenageada no festival de música "Sol da Caparica" pela Câmara Municipal de Almada, que lhe atribuiu a medalha de prata de Mérito Cultural pelo seu empenho na divulgação das artes e pela sua dedicação às causas sociais.