Livro retrata luta do cantor angolano Bonga pela liberdade africana
10 de maio de 2013O seu nome de batismo é José Adelino Barceló de Carvalho, mas todos o conhecem como Bonga Kwenda. Hoje, o compositor divide-se entre as suas residências em Lisboa, Paris e Luanda.
Mas nem sempre foi assim. Ao longo dos anos, o cantor da liberdade de Angola viu a sua música assumir diversas faces, todavia sem perder a principal característica: a mensagem de que o povo angolano deve lutar se quiser ser livre, principalmente a partir da união dos jovens.
“Hoje, mais do que nunca, eu sou um exemplo para essa juventude que vê em mim, finalmente, aquilo que nós chamamos de cota. O cota é o velho, mas não no sentido pejorativo. É o velho de força anímica. Então, essa juventude, que tem acompanhado tudo isso, não está naquela de ficar somente como ‘decoração’. Ela está numa de afirmar de acordo com os dados que tem.”
Os dados a que Bonga se refere são “a vivência de um passado recente” que os jovens vão afirmando. Além disso, refere o compositor, mesmo que tenha passado por faculdades e universidades, “a juventude pensa que tem que estar com os pés bem no chão a desfrutar de sua terra e, principalmente quando já viajou um bocadinho e viu o que se passa aqui e acolá, com outros que se afundaram - e a culpa não foi nossa”, sublinha Bonga, referindo-se à Europa. Lembra ainda que “sempre houve um certo preconceito em relação a África.”
Mensagens pela liberdade angolana ecoaram em África
O guineense Filomeno Lopes é o autor do livro “Bonga Kwenda: Um combatente angolano da liberdade africana”, lançado esta sexta-feira (10.05), na capital italiana, Roma. Ele explicou o porquê deste título e como as mensagens de Bonga pela liberdade angolana ecoaram por toda África ao citar os 50 anos de fundação da Organização dos Estados Africanos (OEA), há 50 anos atrás.
“Um dos objetivos primários desta organização era unir os africanos dentro de uma linha pan-africana, para lutarem juntos pela conquista da independência e depois, mais tarde, também acabar com o regime do Apartheid”, recorda o autor. Uma luta que foi feita em conjunto. Podia-se ser de Angola, da Guiné-Bissau ou do Burundi, mas antes de tudo era-se “africano de origem tal que lutava para a conquista da independência do seu país, mas como representante de todo o continente africano”, acrescenta. “E Bonga, neste aspecto, foi uma bandeira”, salienta Filomeno Lopes.
“Africa 72”, o primeiro álbum musical do cantor angolano, foi um álbum político e que naquela altura lhe valeu também a perseguição da PIDE/DGS, a polícia política portuguesa, razão pela qual Bonga teve de fugir para a Holanda, recorda o autor. “É daquelas personagens que usaram a música para lutar contra a colonização, contra a opressão negra e contra o racismo, sobretudo”, considera Filomeno Lopes.
Música de caráter político continua
Bonga continua empenhado na música de caráter político e diz-se contente por ver movimentos jovens a lutar pela liberdade do seu país. “E esta juventude africana, quer esteja no país, quer ela esteja no exterior, sabe que não pode contar com determinados personagens da cena política internacional, mas pode contar com ela própria."
O compositor angolano considera que hoje, “mais do que nunca”, os jovens “estão a afirmar uma certa personalidade africana que vai surgir, mais dia ou menos dia". O artista acredita que está a surgir “uma personalidade africana para assumir muito mais e para estar muito mais em conformidade" com as suas raízes históricas, sociais, culturais e filosóficas. "E de liberdade, sobretudo", remata.
O compositor angolano revela ainda que “os mais velhos, com exemplos a dar”, também estão à espera de liberdade, paz, harmonia e tranquilidade. “Não foi por azar que a gente se bateu tanto para chegar a uma juventude que pensa, que lê, que evoluí e que dá ao país essa imensidão histórica importante”, assegura Bonga Kwenda.