Lixo eletrónico em África é uma ameaça para a população
15 de fevereiro de 2012Os custos humanos da exportação ilegal de lixo eletrónico dos países industrializados para África são enormes. O Gana é apenas um dos países que sofrem com esta prática criminosa. Ao longo da Lagoa de Korle, perto do mercado de Agbogbloshie na capital, Accra, a lixeira torna o ar é irrespirável. Os habitantes começam a preocupar-se seriamente com os problemas de saúde causados pela poluição. Um homem conta que sofre de várias doenças, para as quais precisa de comprar um número elevado de medicamentos. Mas não pode ir embora, porque ganha a vida graças à lixeira.
Os jovens que trabalham aqui, tentando recuperar lixo que pode ser vendido ou reaproveitado, conhecem bem os perigos que correm. Mas, dizem, precisam do dinheiro.
Exportação para África mais barata do que reciclagem
Emmanuel Dogbevi é um jornalista conhecido no seu país, que se especializou em lixo eletrónico e as suas consequências. O editor online do “Businessnews” está determinado a pôr termo a esta ameaça. “Um relatório do EPA, o Departamento do Ambiente do Gana, em conjunto com organizações não-governamentais, revela que neste momento há no pais 170 000 toneladas de lixo eletrónico”, diz Dogbevi. O jornalista salienta que os ganenses não sabem, por exemplo, o que fazer com os seus computadores estragados. Muitas vezes trazem para o Gana aparelhos defeituosos na esperança de os conseguir reparar. “Mas quando não conseguem, o que fazem com eles? Deitam-nos fora em qualquer lado”.
Há ainda quem exporte deliberadamente lixo eletrónico para o Gana, prossegue Emmanuel Dogbevi. Trata-se de bandos criminosos de todo o mundo. “A razão é simples. É mais caro reciclar devidamente os resíduos no mundo industrializado, onde até existem os recursos e a tecnologia”. Um negócio muito mais lucrativo é vender o lixo eletrónico a negociantes locais, que o importam alegando tratar-se de material usado. “Os negociantes depois vendem o lixo aos jovens no mercado, ou noutro lado, que o desmantelem e extraem os fios de cobre. Estes são derretidos em lareiras ao ar livre, poluindo o ar e, muitas vezes, intoxicando diretamente os próprios jovens”.
Autoridades ganenses acusadas de inércia
O jornalista acusa o Governo e as autoridades responsáveis de não terem procurado soluções para o problema no passado. Mesmo agora, diz, parecem ter pouca disposição para agir. Nos últimos meses, o repórter tem evitado falar no assunto, por ter a impressão distinta de ter sido colocado numa lista negra do Governo. “Mas parece-me que departamentos como o EPA não estão muito interessados em tratar desta questão complicada, por isso preferem ignorá-la. Não sei dizer porquê. Por falta de recursos humanos, de dinheiro ou porque o problema lhes parece complicado demais?”, questiona.
Dogbevi considera este assunto demasiado importante para ser ignorado. Mas confessa que não sabe que mais fazer para obrigar as autoridades a atuar. O jornalista critica também os meios de comunicação social do país, que não pegam no assunto, apesar deste género de poluição colocar em risco todo o país: “Por exemplo, ninguém sabe por onde passa a água que sai da torneira em casa. Quem compra água engarrafada, também não sabe de onde provém. Estamos todos em risco”.
Gana não tem legislação sobre o lixo eletrónico
O jornalista diz que os seus colegas devem ajudar a esclarecer a população e apela para uma campanha para reivindicar medidas concretas. Por exemplo, instalando pontos de recolha do lixo eletrónico ou informando a população sobre os cuidados a ter. Atualmente o Gana não tem sequer leis que regulem o manuseamento do lixo eletrónico.
Autor: Isaac Kaledzi (Accra)/ Glória de Sousa
Edição: Cristina Krippahl