Como Isabel dos Santos reagiu às denúncias do "Luanda Leaks"
21 de janeiro de 2020A multimilionária angolana Isabel dos Santos pretende recorrer à justiça internacional para defender-se contra as acusações de enriquecimento ilícito à base de corrupção, nepotismo e desvio de dinheiro para paraísos fiscais. A empresária fez chegar uma nota a alguns veículos de imprensa, e desde domingo defende-se das acusações via a rede social Twitter.
O megavazamento de documentos internos sobre as atividades empresariais da filha do ex-Presidente de Angola José Eduardo dos Santos - chamado de "Luanda Leaks" - foi coordenado pelo Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) e contou com a participação de mais de 120 jornalistas de diversas empresas de média em mais de 20 países. As denuncias atingiram duramente a empresária.
Isabel dos Santos acusou o ICIJ de se basear em suposições. "O ICIJ afirma que os negócios que construí e os investimentos que fiz foram à conta dos angolanos. Mais uma vez, uma alegação extremamente séria e ainda assim nenhuma das supostas provas comprovam isto" (sic), defendeu a antiga presidente da Sonangol.
Para a empresária, em momento algum o ICIJ tentou provar que os seus esforços comerciais foram feitos à custa dos angolanos. "Em vez disso, focam em aspetos individuais e privados e transações comerciais são selecionadas e reportadas de forma seletiva e tendenciosa de forma a inserirem-se na narrativa pré-construída do ICIJ, organização que está a ser usada como representante numa luta para neutralizar adversários políticos e vozes alternativas", lê-se no comunicado.
"Quem beneficia disto?"
O "Luanda Leaks" coloca Isabel dos Santos com pivô de uma série de manobras irregulares que também teriam contado com o apoio do seu marido Sindika Dokolo e de entidades e pessoas ligadas aos seus negócios. A empresária continua a tratar as denúncias como um "ataque político orquestrado" para a "neutralizar", e lembra que o partido Movimetno Popular de Libertação de Angola (MPLA) terá eleições em 2021.
"Mais de 700 mil documentos foram ilegalmente pirateados dos meus escritórios há sete meses e transferidos para uma organização pouco conhecida sediada em Paris, de onde foram enviados para o ICIJ", sustenta a empresária.
"Quem beneficia disto? [...] Procurarei repor a verdade dos factos e lutar através dos tribunais internacionais para defender o meu bom nome", diz a empresária no comunicado, salientando que não identificou em nenhuma reportagem algum comportamento ilegal da sua parte.
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos reiterou que sempre trabalhou "dentro da lei" e que todas as suas "transações comerciais foram aprovadas por advogados, bancos, auditores e reguladores", lê-se no comunicado.
Efeito imediato
O banco EuroBic decidiu terminar a "relação comercial com entidades controladas pelo universo da acionista Isabel dos Santos e pessoas estreitamente relacionadas" à empresária. A atitude da instituição é um dos primeiros efeitos concretos do escândalo "Luanda Leaks" na vida empresarial de Isabel dos Santos.
O EuroBic indica que "a perceção pública de que o banco possa não cumprir integralmente as suas obrigações pelo fato" de Isabel dos Santos ser uma "acionista de referência" como motivo para o corte de relações comerciais.
O banco adianta que "os pagamentos ordenados pela cliente Sonangol à Matter Business Solutions respeitaram os procedimentos legais e regulamentares formalmente aplicáveis" no que concerne à prevenção de branqueamento de capitais.
O Procurador Geral da República de Angola, Helder Pitta Grós, admitiu a possibilidade de emitir um mandado de captura internacional da empresária Isabel dos Santos. A declaração foi feita ao jornal português Expresso - um dos órgãos de imprensa que divulgou as matérias do "Luanda Leaks".
Os organizadores do Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, disseram que a ausência de Isabel dos Santos no evento já era prevista antes mesmo do "Luanda Leaks". O porta-voz Max Hall recusou-se a especificar se foi o fórum ou a própria empresária que cancelou a participação. No entanto, os organizadores do evento confirmaram seus laços com a empresa Unitel, pertencente à filha do ex-Presidente de Angola.