"Luanda Leaks": Joalharia De Grisogono declara falência
29 de janeiro de 2020A joalheira De Grisogono - da qual Sindika Dokolo, marido da empresária Isabel dos Santos, tem propriedade parcial - anunciou essa quarta-feira (29.01) falência por não ter encontrado compradores e pela acumulação de dívidas.
A falência será anunciada oficialmente aos 65 trabalhadores da fábrica na região suíça de Plan-les-Ouates e surge na sequência dos vazamentos de documentos no âmbito do "Luanda Leaks". Entre as denúncias do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) está a utilização de dinheiro público angolano para a aquisição da joalheria.
Na semana passada, em entrevista à agência Lusa, o Procurador-Geral de Angola, Hélder Pitta Grós, admitiu que entre os processos em investigação está o financiamento da compra da joalheria com recursos da estatal de diamantes Sodiam [cerca de 180 milhões de euros].
O arresto dos bens
No despacho-sentença que determinou o arresto de bens de Isabel dos Santos, divulgado no final do ano passado, é dito que - em audiência de produção de prova, ouvidas as testemunhas, resultou provado, entre outros factos - que, em agosto de 2010, o Executivo angolano, chefiado então por José Eduardo dos Santos, decidiu comercializar diamantes angolanos no exterior do país.
Ficou também provado que "o antigo Presidente da República decidiu investir na De Grisogono - que se encontrava em falência técnica em virtude de uma dívida com os bancos UBS-Banco Cantonale de Genebra e BCV".
Segundo a providência cautelar de arresto, o então Presidente José Eduardo dos Santos decidiu comprar a dívida da sociedade De Grisogono junto aos bancos e "oferecer o negócio a Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, sua filha e genro".
"Luanda Leaks"
De acordo com as revelações do ICIJ - que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo - em 2010, eles teriam incorporado duas empresas de Malta para adquirir o controlo da joalheira de luxo suíça. O parceiro de negócios era a agência de comércio de diamantes de Angola, Sodiam, que era co-proprietária das instituições.
Segundo o que foi divulgado pelo ICIJ, a intenção de Dokolo era criar uma empresa que controlasse a indústria de diamantes de Angola - da mineração e polimento até o varejo. De acordo com os documentos vazados, a Sodiam ajudou a financiar a aquisição e fez um empréstimo à joalheira de mais de US$ 120 milhões. Dokolo teria o controlo administrativo total da empresa.