Lura: "Os meus pais sempre me contaram sobre Cabo Verde"
13 de abril de 2016Já tinha lançado um CD em 1996, mas foi em 2004 que lançou o primeiro álbum genuinamente cabo-verdiano.
Lura nasceu em Lisboa e conheceu Cabo Verde na adolescência, enquanto aprendia crioulo. "Sou nascida em Portugal, mas sou filha da emigração cabo-verdiana. Foi tudo gradual", recorda. A primeira língua que aprendeu a falar foi português, mas os pais sempre falaram crioulo e, por isso, a cantora sempre esteve em contacto com a língua.
"No início, comecei a ter curiosidade pelo crioulo. Com 14 anos, na escola, com a idade da irreverência e como os meus amigos falavam crioulo, eu também queria aprender. Mais tarde, descobri a minha voz, com cerca de 17 anos e nessa altura tudo aconteceu no sentido de me aproximar de Cabo Verde", confessa.
Trocou o curso de educação física pela música e as sapatilhas pelo microfone. As músicas multiplicaram-se e atualmente Lura está a correr o mundo para apresentar o seu sétimo álbum, "Herança", que representa o património cabo-verdiano e os seus antepassados.
"Sou negra e tenho esta curiosidade enorme pelas minhas raízes e pelas histórias que os meus pais sempre me contaram desta terra maravilhosa que é Cabo Verde. Acabei por estar cada vez mais envolvida na história e cada vez fui andando mais profundamente para descobrir mais sobre as minhas raízes cabo-verdianas".
Cesária Évora, "inspiração a outro nível"
Lura não esconde também a admiração que sente pela diva dos pés descalços. "A Cesária Évora, para mim, já é uma inspiração a outro nível. É qualquer coisa que me transcende. É por causa de ser mulher também e cantora", conta. "Ser uma mulher com uma história tão rica e tão profunda e um percurso tão sofrido e depois uma glória tão grande e tão mundial. Foi uma coisa fantástica que aconteceu, não só na vida dela, mas também na história da música de Cabo Verde. É uma pessoa que vai, de certa forma, sempre acompanhar-me".
Lura quer levar as suas raízes mais longe e salienta a importância da mulher cabo-verdiana na sua música. "A sociedade cabo-verdiana é muito matriarcal. A começar pela minha própria mãe, que criou quatro filhos sozinha, sempre foi uma guerreira. E em Cabo Verde existem várias. Não só em Cabo Verde, em todo o mundo, mas esta é a minha realidade e é sobre ela que eu falo e acho que se deve homenagear", diz a cantora.
"Fala-se que os homens fazem e acontecem e vão à guerra e levam o sustento para casa. E as mulheres? Também fazem coisas valiosíssimas. A mulher é que começa a vida e tem uma força intelectual e psicológica fortíssima que move montanhas".
Já esteve nomeada para prémios como "Victoires de la Musique", "World Music" da BBC e recentemente para melhor artista de 2016, pela revista britânica Songlines, onde o álbum "Herança" foi anunciado como um dos dez melhores em todo o mundo no ano de 2015. "São formas de reconhecimento bastante valiosas. É sinal de que o projeto está a ser levado em consideração. Agora só falta ganhar", diz entre risos.
Quanto ao futuro, Lura afirma que não gosta de fazer planos a longo prazo: "Quero continuar a cantar e fazer cada vez mais e levar a música de Cabo Verde cada vez mais além. Vivo a dia a dia e de acordo com isso vou fazendo o meu futuro. Não faço muitos planos".