Líbia: Confrontos entre milícias e exército preocupam
6 de abril de 2019O exército nacional líbio (ANL) do marechal Khalifa Haftar, que controla o leste do país, denunciou, este sábado (06.04), o raide aéreo sofrido pelas suas forças, a cerca de cinquenta quilómetros da capital de Trípoli, sobre a qual lançou um ataque. "Nós denunciamos firmemente o raide aéreo na região de Al-Aziziya" efetuado por um avião que descolou de Misrata (oeste), disseram os serviços de comunicação do exército nacional líbio.
Na quinta-feira (04.04), as forças leais ao marechal Haftar lançaram uma ofensiva para tomar a capital líbia, onde as forças do GNA liderado pelo seu principal rival, Fayez al-Sarraj, ordenou aos seus militares que os repelissem. De acordo com a ANL foram alvejados civis no raide aéreo, embora não tenha relatado baixas.
Estes são os primeiros combates significativos entre as duas partes desde a instalação do Governo de União Nacional na capital líbia, no final de março de 2016.
Comunidade internacional preocupada
Em Dinard, França, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos sete países mais industrializados do mundo (G7) apelaram à cessação "imediata" de "todos os movimentos militares em direção a Tripoli". Este sábado (06.04), Heiko Maas, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, e porta-voz do G7, disse que o grupo está de acordo em "usar todas as possibilidades à sua disposição para pressionar os responsáveis pelo conflito, especialmente o General Haftar, para evitar mais uma escalada militar".
Esta sexta-feira (05.04), naquele que foi o último dia da sua visita ao país, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse, no aeroporto, que deixava a Líbia com "o coração pesado e uma profunda preocupação".
Guterres, que chegou ao país esta quarta-feira (03.04), foi apanhado de surpresa pela tensão entre as milícias e o exército nacional. Uma vez que, no dia seguinte à sua chegada, o marechal Khalifa Haftar, homem forte da fação que controla o leste da Líbia e que disputa o poder do país, ordenou às suas forças do exército nacional que avançassem em direção a Trípoli. No dia seguinte, o secretário-geral da ONU reuniu-se, em Bengazi, com Khalifa Haftar numa tentativa de evitar este avanço.
Também o Conselho de Segurança da ONU pediu a suspensão dos movimentos militares das forças do comandante Khalifa Haftar, lembrando que "não pode haver solução militar para o conflito" e que vai "exigir responsabilização por mais conflitos".
Proteção dos civis
Este sábado (06.04) também a Human Rights Watch (HRW) apelou a ambos os lados para que tomem as medidas necessárias para minimizar danos civis e respeitar as leis de guerra. Em comunicado, a organização não-governamental lembra que os combatentes liderados pelo general Khalifa Haftar têm um "histórico bem documentado de ataques indiscriminados contra civis, execuções sumárias de combatentes capturados e detenções arbitrárias" e que as milícias afiliadas ao Governo do Acordo Nacional "também têm um histórico de abusos".
"Sempre que as forças armadas rivais se chocam em cidades líbias, são os civis que mais sofrem", assevera no comunicado diretora da ONG para o Médio Oriente e Norte da África, Sarah Leah Whitson, defendendo que "todos os lados precisam de respeitar" as leis da guerra e "minimizar os danos" civis.
Na Líbia, país imerso num caos político e securitário há vários anos, duas autoridades disputam o poder: um governo de união nacional líbio, estabelecido em 2015 em Tripoli, que é reconhecido pela comunidade internacional (incluindo pelas Nações Unidas) e que tem o apoio de milícias, e uma autoridade paralela que exerce o poder no leste do país, com o apoio do marechal Haftar, um militar dissidente do regime de Muammar Kadhafi, que caiu em 2011.
Conversações
Até agora, o marechal Haftar e o líder do GNA, Fayez al-Sarraj, evitaram um confronto direto, apesar da tensão política e militar entre os dois campos rivais. Em finais de fevereiro, a ONU anunciou mesmo um novo acordo alcançado em Abu Dhabi entre os dois poderes rivais para a organização de eleições na Líbia, mas sem estabelecer um calendário.
Está agora agendada para breve, de 14 a 16 de abril, na cidade de Ghadames, uma conferência, intermediada pela ONU, que pretende abrir o caminho para uma possível solução política.
"Estamos determinados" a manter as conversações como programado "a menos que circunstâncias maiores nos impeçam", garantiu, este sábado (06.04), Ghassan Salame, enviado da ONU na Líbia, em conferência de imprensa.