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Frente Popular: "Tortura não nos fará desistir"

Djariatú Baldé
28 de maio de 2024

Libertado após 10 dias detido, o líder da Frente Popular, Armando Lona, denuncia tortura e condições desumanas. Em entrevista à DW, afirma que não há motivos para desistir da luta pela República.

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Guinea-Bissau Bissau | Frente Popular (FP) - Armando Lona
Foto: Frente Popular

A manifestação convocada pela Frente Popular na Guiné-Bissau, resultou na detenção de mais de 90 pessoas no passado dia 18 de maio. A maior parte dos detidos foram libertados dois dias depois da manifestação e nove considerados promotores de protesto continuaram nas celas e só foram libertados esta segunda-feira.

Todos os que detidos afirmam que foram torturados e alguns mostraram sinais através de fotos partilhadas nas redes sociais. A advogada dos ativistas, Beatriz Furtado promete processar o Governo pela tortura e sequestro desses cidadãos.

Em entrevista à DW, o líder da Frente Popular, Armando Lona, descreveu as severas condições de detenção e reafirmou o compromisso da Frente Popular em prosseguir com a luta pela "afirmação da República" e contra o que descreve como a disfuncionalidade das instituições governamentais. "Não há motivos para desistir", afirmou o ativista, indicando que as ações de protesto são parte essencial da estratégia para pressionar por reformas políticas e institucionais no país.

DW África: Como se sente após passar 10 dias na prisão?

Armando Lona (AL): Do ponto de vista físico, não posso dizer que estou bem, estou normal depois da situação que passamos nas celas da Segunda Esquadra em Bissau. Foi uma situação horrível, houve sessões de tortura, as pessoas foram espancadas, incluindo eu. Portanto, precisamos de uma visita médica para saber como estamos realmente.

DW África: Como aconteceram estas sessões de tortura?

AL: Primeiramente, a brutalidade começou durante a manifestação. Era para ser uma manifestação pacífica e fomos surpreendidos por uma brutalidade inimaginável. As pessoas foram sequestradas e conduzidas para as instalações do Ministério do Interior e lá torturadas. A tortura ocorreu sob a forma de um desfile: um grupo ia, depois vinha outro grupo, e assim sucessivamente. Portanto, foi uma situação horrível que nós não imaginávamos que pudesse acontecer neste país. As nossas celas não têm condições para albergar seres humanos e foram nestas condições que nós fomos lá admitidos.

 Pportugal Protest in Lissabon
Ondas de contestação contra o Presidente Sissoco têm aumentado.Foto: João Carlos/DW

DW África: A Liga denunciou que todos os manifestantes foram submetidos a tortura. Isso realmente aconteceu e de que forma foram torturados?

AL: Confirmo. O José Carlos Macedo (Secretário de Estado da Ordem Pública) falou diretamente comigo e ordenou que eu fosse enviado para lá. As celas não têm condições, mas esta é mais degradante.

DW África: Sabem os motivos pelos quais foram torturados e quem responsabilizam por isso?

AL: Nós responsabilizamos os titulares do Ministério do Interior, os responsáveis máximos deste ministério, neste caso o senhor Botche Candé e o senhor José Carlos Macedo. A tortura e a brutalidade aconteceram lá no ministério, portanto são eles os responsáveis e devem ser responsabilizados criminalmente pelo que aconteceu. Não há motivos para isso, a lei da Guiné-Bissau não permite tortura nem espancamentos.

DW África: O Presidente acusou a Frente Popular de realizar manifestações encomendadas. Enquanto líder da organização, como reage a estas declarações?

AL: Nós não respondemos a isso porque somos uma entidade responsável. O nosso propósito é lutar pela afirmação da República, esta República que está no chão neste momento, as instituições não estão a funcionar, existe um absolutismo neste país. Portanto, enquanto povo estamos a lutar pelo resgate da República. Somos pessoas responsáveis e tecnicamente preparadas, portanto, não precisamos de encomenda de ninguém, nem hoje nem amanhã.

DW África: A Frente Popular pensa em realizar mais manifestações? Qual será o próximo passo?

AL: Vamos anunciar nos próximos dias a nossa agenda, que vai no sentido de continuar a luta pela afirmação da República e pela afirmação das instituições.

DW África: Portanto, não pensam em desistir?

AL: Não, não temos motivos para desistir. Estamos a dizer ao povo guineense que para sair desta situação de anarquia e disfuncionalidade do Estado e da República

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