Máfias dominam o corte ilegal de madeira na Guiné-Bissau
21 de julho de 2015O Governo da Guiné-Bissau aprovou recentemente uma regra que proíbe o corte de árvores na floresta durante os próximos cinco anos. Mas a moratória implementada não está a ser eficiente porque, segundo a Comissão Técnica Interministerial para a Gestão da Madeira, “ainda se fazem abates de árvores nas zonas leste e sul do país”.
O engenheiro florestal e antigo diretor-geral dos Serviços Florestais Guineense, Constantino Correia, foi um dos defensores da moratória, mas reconhece que a mesma tem falhas e diz que foi "uma das pessoas que defendeu a moratória e por um período um bocadinho mais largo, tendo em conta o ciclo de vida das espécies florestais. Decretou-se a moratória e ficou-se por aí. E para complicar a situação, o atual diretor-geral foi suspenso. Neste momento a direção geral de florestas está a ser assegurada interinamente pelo chefe de gabinete do ministro. Tenho dúvidas tendo em conta o que se deve fazer. A moratória pode ajudar a melhor organizar o setor florestal mas não vai durar indefinidamente. Foi decretada por um período de cinco anos”.
O engenheiro florestal declara que em apenas “um ano foram cortados mais de 90 mil metros cúbicos de área florestal e de apenas uma espécie que é conhecida por Pau Sangue”. Constantino Correia acrescenta que este abate foi “totalmente ilegal tendo em conta o relatório da direção geral das florestas que foi apresentado ao comité técnico de floresta, que é um órgão técnico de decisão da direção-geral de florestas. Um órgão presidido por um ministro, ressalva o ex-diretor geral das florestas na Guiné-Bissau.
Ameaçado de morte e afastado do cargo
Constantino Correia diz que também ele foi afastado do cargo de diretor-geral das florestas. O engenheiro conta à DW África que o seu afastamento se deve por ter sido “implacável” na altura dos cortes que foram necessários efetuar em 2004 e 2005, e acrescenta que a sua teoria viria a verificar-se 11 anos mais tarde. Por essa razão, o antigo diretor-geral diz ter sido “ameaçado de morte pelo então chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e insultado no gabinete do antigo ministro da Agricultura".
Trata-se de uma rede, uma máfia
Justino Sá é advogado e especialista em gestão e exploração da madeira, e declara que enquanto houver compradores haverá aliciamento para que se corte madeira ilegal. É uma rede, conta o especialista:
“Temos um conjunto de estrangeiros. Os chineses são os estrangeiros interessados em comprar essa madeira, e incitam os outros para entrar dentro da mata e cortar porque lhes interessa comprar. É difícil determinar o nome mas são os estrangeiros, não os nacionais."
“É uma máfia e é extremamente difícil de controlar o corte de madeira ilegal” diz Nelson Dias, membro da União Internacional de Conservação da Natureza na Guiné-Bissau. O diplomata denuncia que se trata de tráfico e que “é extremamente difícil controlar tudo isso". Justifica que o facto de não “existirem autarquias na Guiné-Bissau, fragiliza o controlo local” e as “estruturas centrais são frágeis”, acrescenta.
Nelson Dias diz que as estruturas “estão a ser montadas para poder seguir as leis.” Declara que “tomam-se decisões, a assembleia faz leis. As leis são bonitas mas segui-las, é outra história. A questão da madeira deve ser dirigida pela justiça. É uma guerra entre a máfia e o eixo do bem.”
O diplomata descreve que “nas estradas se vê o transporte para Bissau de grandes quantidades de madeira. Embora se trate de madeira seca e antiga que foi cortada há mais tempo, não deixa de ser madeira cortada ilegalmente".O engenheiro florestal Constantino Correia diz que, “segundo a informação disponível ao público em geral, está a proceder-se ao escoamento dos troncos abatidos para Bissau. Essa madeira irá ser processada para um enquadramento legal, vai abrir-se um período de reclamações para os eventuais donos possam reclamar essa madeira", concluiu.