1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
SociedadeRepública Democrática do Congo

M23 ocupa cidades no leste da República Democrática do Congo

Wendy Bashi | Mimi Mefo
4 de julho de 2024

Os rebeldes do M23 capturaram as cidades de Kanyabayonga e Kirumba, no leste da RDC. O silêncio da comunidade internacional e as dificuldades das forças armadas congolesas facilitaram o seu sucesso, dizem especialistas.

https://p.dw.com/p/4hqaI
Exército congolês tem estado a combater o grupo M23 no leste do país
Exército congolês tem estado a combater o grupo M23 no leste do paísFoto: Moses Sawasawa/AP Photo/picture alliance

O conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC) intensificou-se nos últimos dias, conduzindo a deslocações generalizadas e suscitando sérias preocupações quanto à situação humanitária na província do Kivu do Norte, em particular.

Os rebeldes do M23 capturaram as cidades de Kanyabayonga e Kirumba, entre os dias 28 e 29 de junho. Os ataques provocaram a deslocação de milhares de pessoas.

Habitantes de Kirumba, como Tsongo Augustin, dizem que cada vez mais pessoas são forçadas a abandonar a zona, que acolheu deslocados pelo conflito.

"Kirumba está a ser gradualmente abandonada pela população e, por isso, a situação humanitária é muito complicada. Esta área acolheu muitas famílias deslocadas de Rutshuru, que agora estão a fugir novamente", relata Augustin.

Wema Kennedy, outro residente em Kirumba, questiona a passividade do governo para recuperar as cidades ocupadas pelo M23.

"Não vemos o esforço do governo congolês. Bunagana, por exemplo, está sob o domínio do M23 há cerca de dois anos, e muitos têm medo de que não seja fácil para o governo retomar o controlo de Kirumba. Por isso, as pessoas estão frustradas", conta.

Quem são os principais atores no conflito na RDC?

Importância estratégica da região

Kirumba é a maior povoação do território de Lubero, com uma população de mais de 120.000 habitantes.

Kanyabayonga alberga mais de 60.000 pessoas, mas dezenas de milhares de pessoas fugiram para lá nos últimos meses, expulsas das suas casas pelo avanço dos rebeldes.

As duas cidades são "estratégicas" para travar o avanço dos rebeldes para a região norte do país, afirma Adolphe Agenonga, professor da Universidade de Kisangani.

O desempenho do exército congolês é questionado perante a escalada de ataques dos rebeldes no leste do país.

Augustin Muhesi,  professor de Ciências Políticas, sublinha a necessidade de reavaliar a estratégia do exército: "Isto pode estar relacionado com a moral dos soldados. Muitos estão a lutar há muito tempo sem descanso".

Jovens da RDC juntam-se ao Exército para combater o M23

Crise humanitária crescente

A captura de Kanyabayonga e Kirumba desencadeou agora um novo surto de deslocações em massa, agravando uma situação humanitária já de si terrível. "A pergunta que nos fazemos é para onde irão todas estas famílias deslocadas?", questiona Augustin Muhesi.

Um recente ataque a um comboio na província de Kivu do Norte agravou ainda mais a situação de segurança e a crise humanitária na região - e não só. Dois soldados sul-africanos foram mortos nesse recente ataque e dois assistentes humanitário continuam desaparecidos.

A comunidade internacional e a União Africana (UA) continuam silenciosas perante estes últimos desenvolvimentos. Para Adolphe Agenonga, isso deve-se a uma divergência de interesses e abordagens. "A comunidade internacional e a UA defendem o diálogo entre as partes envolvidas neste conflito, mas o governo de Kinshasa rejeita", diz.

O Conselho Norueguês para os Refugiados alerta para a gravidade da crise humanitária na RDC. Eric Batonon apela a medidas urgentes. "É importante que a comunidade internacional e todos os líderes mundiais se unam para tentar encontrar uma solução para este conflito", sublinha.

Em resposta aos avanços do M23, o Presidente congolês, Félix Tshisekedi, convocou uma reunião do Conselho de Defesa e reafirmou à nação o seu empenho para preservar a integridade territorial do país.