Madagáscar em vésperas de eleições presidenciais
24 de outubro de 2013A eleição presidencial desta sexta-feira (25.10) em Madagáscar, tem por missão colocar um termo à crise política devastadora que provocou a suspensão das ajudas internacionais à grande ilha e levou milhões de malgaxes para a pobreza, depois do derrube do Presidente Marc Ravalomanana em 2009. O número de pobres aumentou consideravelmente. Pelo menos quatro milhões de pessoas de um total de 22 milhões vive na pobreza.
Agora, a população do país espera que um regresso à ordem constitucional permita o fim das sanções internacionais, assim como o regresso da ajuda e dos investimentos estrangeiros.
Para este pleito a lista é longa: 33 candidatos estão na corrida. E até muitos observadores da paisagem política malgaxe desconhecem estes candidatos, como deixa claro o jornalista Jean Hervé Rakotozanany:
"É verdade que não existem muitos nomes conhecidos entre os 33 candidatos, o que me causou um certo espanto. Eu já trabalho na rádio há quase 17 anos, mas nunca tinha ouvido falar em alguns dis candidatos", admitiu o jornalista.
Antigos políticos fora da corrida
No início, tudo indicava que políiticos veteranos iriam ser os protagonistas de um novo duelo: o exilado Marc Ravalomanana, Presidente do país até início de 2009, e Andry Rajoelina, o atual Presidente, que derrubou do poder o seu predecessor através de um golpe de Estado.
A data do escrutínio foi alterada várias vezes, devido a querelas sobre quem poderia participar na corrida eleitoral. Mas depois de muitas discussões e pressões, os dois rivais prometeram não se apresentar.
Contudo, Ravalomanana decidiu enviar a sua mulher, Lalao, para a corrida eleitoral, o que levou Rajoelina a mudar de ideias e apresentar a candidatura. Face a este cenário, a comunidade internacional reagiu e começou a pressionar os dois políticos, que acabaram por ser afastados da lista. Apesar disso, os dois homens pretendem continuar a influenciar o destino político de Madagáscar.
Do seu exílio na África do Sul, Marc Ravalomanana apoia a candidatura do seu antigo ministro da Saúde, Jean Louis Robinson. Enquanto Andry Rajoelina, que na qualidade de Presidente da transição deveria permanecer neutro, apoia o seu ex-ministro das Finanças, Henry Rajaonarimampianina. Sahondra Rabenarivo, jurista e militante dos direitos cívicos, salienta, no entanto, que ninguém saberá dizer com toda a certeza quem sairá vencedor do escrutínio.
Resultado imprevisível
"Penso que será uma surpresa geral", diz o jurista. Contudo, para Rabenarivo, é evidente que os candidatos favoritos são os “mais visíveis e que aparentemente têm os meios necessários para realizar campanhas”. E afirma que no terreno “vemos também os outros candidatos, mais discretos, que têm contudo os apoios necessários e que poderão levar muitas pessoas a votar neles”, reitera.
Pela primeira vez, os nomes dos candidatos não se encontram em boletins de voto individual, mas todos num único boletim, onde os votantes deverão marcar com um X o candidato da sua escolha. Essa metodologia visa limitar as fraudes eleitoriais. Mas, segundo a jurista, o processo deveria ser elaborado, apresentado e explicado melhor à população. Acresce que ocorreram alguns problemas na altura da elaboração e da distribuição dos cartões eleitorais.
Muitos eleitores ainda sem cartões eleitorais
A poucas horas do escrutínio, muitos malgaxes ainda não receberam os seus cartões de eleitor. Sahondra Rabenarivo espera que o escrutínio se desenrole da melhor forma possível, mas não esconde a sua preocupação.
"Espera-se que não ocorram fraudes e que a organização técnica no dia do voto seja impecável". Refere também a importância dos perdedores aceitarem pacificamente a derrota, "caso contrário, será muito difícil o período que medeia entre a primeira e a segunda voltas, e nem sei se iremos chegar ao termo deste processo eleitoral", conclui.
Na verdade, como a maioria dos analistas, a jurista considera que é quase certa a realização de uma segunda volta para esta eleição presidencial. Mas aqui reside um problema: muitas estradas estão intransitáveis por causa da estação das chuvas, que também dificulta a deslocação das pessoas para as assembleias de voto.
Daí que, segundo Helmuth Burmeister, da GIZ, Agência Alemã de Cooperação Internacional de Madagáscar, o quadro não seja o ideal para a realização do escrutínio.
Mas Burmeister insiste ser essencial que estas eleições tenham lugar e que permitam a Madagáscar “sair destes anos de crise política”. Além disso, deverão devolver à população as condições necessárias para desenvolver “uma política sensata, para que deixe de sofrer”, sublinha Burmeister.
Entretanto, chegaram ao país com a missão de seguir o escrutínio, cerca de 800 observadores estrangeiros da União Europeia, da União Africana e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e ainda cinco mil malgaxes, membros da sociedade civil.