Lola Castro, diretora regional do Programa Alimentar Mundial (PAM) na África Austral, disse numa conferência de imprensa, na sexta-feira (25.06), que testemunhou "uma situação muito dramática e desesperada" durante a sua recente visita com o chefe daquele programa ds Nações Unidas, David Beasley, à nação da ilha de 26 milhões de habitantes no Oceano Índico.
Centenas de vidas de adultos e crianças foram "desperdiçadas" e centenas de crianças eram "pele e ossos" e receberam apoio nutricional, disse ela.
Em 28 anos de trabalho no PAM em quatro continentes, Lola Castro disse que nunca tinha visto nada "tão mau" - exceto em 1998, em Bahr el-Gazal, no que é agora o Sudão do Sul.
A ONU e o Governo de Madagáscar estão a lançar um apelo à doação de cerca de 155 milhões de dólares em poucos dias para fornecer alimentos que salvam vidas e evitar uma grande fome, disse.
Milhares de pessoas deixaram as suas casas em zonas rurais e mudaram-se para ambientes mais urbanos em busca de alimentos, acrescentou.
Agir depressa
David Beasley escreveu na sexta-feira na rede social Twitter que 400.000 pessoas "caminham na direção da fome" e 14.000 estão em "condições semelhantes à fome".
"Se não agirmos o mais depressa possível, o número de pessoas que enfrentam a fome atingirá 500.000 em poucos meses", alertou, prosseguindo: "Há meses que as famílias vivem de frutos crus de cato vermelho, folhas selvagens e gafanhotos".
"Isto não é por causa da guerra ou conflito, é por causa das alterações climáticas", salientou Beasley. "Esta é uma área do mundo que nada contribuiu para as alterações climáticas, mas agora é a que está a pagar o preço mais alto".
Segundo o PAM, 1,14 milhões de pessoas no sul de Madagáscar não têm alimentos suficientes, incluindo 14.000 em condições "catastróficas", um valor que pode duplicar para 28.000 até outubro.
Madagáscar é o único país que não está em conflito mas ainda tem pessoas a enfrentar uma "Catástrofe Humanitária-Fome" na Classificação da Fase Integrada de Segurança Alimentar, conhecida como IPC, que é uma parceria global de 15 agências das Nações Unidas e organizações humanitárias internacionais, que utiliza cinco categorias para medir a segurança alimentar, disse Castro.