Maior partido da Guiné-Bissau retira confiança política a Serifo Nhamadjo
23 de abril de 2012O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) acusa o candidato às presidenciais e vice-presidente interino do Parlamento guineense de “traição” e de “irresponsabilidade” por estar a negociar o fim da crise política com os golpistas à revelia do partido. Por isso, o partido retirou a confiança política a Manuel Serifo Nhamadjo.
Para o analista guineense Rui Landim, esta situação é mais uma vez o resultado de divergências não resolvidas no seio do PAIGC, o maior partido da Guiné-Bissau, que por sua vez afetam o desenvolvimento da sociedade guineense atraves de posições extremadas como a retirada da confiança política ao vice-presidente da Assembleia Nacional.
Landim considera que as indefinições no seio do PAIGC têm efeitos negativos para a sociedade, nomeadamente no funcionamento das instituições do Estado. “Estamos perante uma grande confusão. O PAIGC detém a maioria parlamentar. Portanto, uma das consequências imediatas é o bloqueio para a saída da situação e o retorno à normalidade constitucional”, afirma. Explica ainda que como lhe foi retirada a confiança, o vice-presidente da Assembleia Nacional interino “fica de braços atados e isso significa que está desqualificado para promover qualquer diálogo.”
Candidatura da discórdia
Serifo Nhamadjo candidatou-se às presidenciais de março último à revelia do PAIGC, concorrendo contra Carlos Gomes Júnior, presidente do seu partido e também primeiro-ministro. A partir daí instalou-se a discórdia que agora toma outras proporções, com Serifo Nhamadjo a negociar o fim da crise política resultante do golpe militar do último dia 12 e contrariando as orientações do PAIGC.
Na opinião de Rui Landim, não existe nenhuma irregularidade e nem ilegitimidade nas posições de Nhamadjo. “A sua candidatura está no quadro constitucional e a sua candidatura presidencial é a candidatura de qualquer cidadão”, explica, lembrando que, como reunia as condições necessárias, o Supremo Tribunal aprovou a sua candidatura.
Landim defende que a legitimidade de Serifo Nhamadjo decorre do facto de ser vice-presidente da Assembleia Nacional, “com uma base maioritária PAIGC”, recorda. “As coisas não devem ser postas nesses termos de traição. Isso é linguagem de um sistema de pensamento único. O que se pretende é sair de uma situação de impasse político”, acrescenta o analista.
Exigido retorno à legalidade
Enquanto isso, a comunidade internacional continua a exigir o retorno à legalidade constitucional, embora sem resposta satisfatória dos militares golpistas que mantêm presos, em lugar incerto, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e o presidente interino do país, Raimundo Pereira. Também os militares prosseguem negociações com as forças políticas locais e sociedade civil.
Face a este impasse, a União Europeia (UE) ameaçou esta segunda-feira (23.04) aplicar sanções aos golpistas e disse que não reconhece o Conselho Nacional de Transição proclamado na Guiné-Bissau. Os 27 juntam-se deste modo a organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que condenam o golpe de Estado e exigem o retorno à ordem.
Autora: Nádia Issufo
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha