Mais de 100 crianças entre as vítimas mortais na Serra Leoa
17 de agosto de 2017Tenneh Bull, moradora de Freetown, sobreviveu ao mar de lama que devastou a capital de Serra Leoa no início da semana, mas continua presa à lembrança da filha, que foi levadapelas águas. "Ontem à noite, não consegui dormir. Pensava nela. Lembro-me e sinto-me muito mal", diz.
Pelo menos 105 crianças morreram no desastre que deixou cerca de 400 mortos, de acordo com organizações no terreno. Mais de 600 pessoas continuam desaparecidas. O porta-voz da Cruz Vermelha, Matthew Cochrina, diz que a expetativa é que o número de mortos aumente.
"A probabilidade de encontrar sobreviventes está a diminuir rapidamente. Embora tentemos permanecer esperançosos, os nossos voluntários reconhecem que estão a trabalhar para recuperar os corpos. Ainda há 600 pessoas desaparecidas, por isso, o número de mortos deve subir", afirmou em entrevista à DW.
Foco: Salvar vidas
Segundo a vice-ministra da Saúde e Saneamento, Zuliatu Cooper, a prioridade é resgatar sobreviventes. "O que vi aqui é terrível. É um desastre natural e agora o foco é retirar as pessoas da zona. Já está escuro e está prestes a chover, então é possível que haja um outro incidente. Queremos salvar vidas. É melhor ter estruturas a desmoronar sem pessoas lá dentro do que ter pessoas no interior das estruturas", explica.
Joseph Willia, morador de Freeetown, pede ao Governo para se esforçar mais. "As bandeiras estão a meia-haste para honrar as pessoas que morreram. O Governo tem de se esforçar mais para ajudar as pessoas no nosso país, porque a destruição é muito grande", diz.
As inundações e os deslizamentos de terra registados em Freetown surpreenderam muitos habitantes durante o sono. Mais de 4.500 famílias perderam suas casas.
Sayo Jalloh sobreviveu ao deslizamento de terra numa montanha em Regent, nos arredores da capital Freetown. Ela sentiu a terra a tremer e conseguiu acordar toda a família antes do desmoronamento, inclusive o irmão que morava numa casa vizinha. "Eu só perguntava por que é que a terra estava a tremer. Numa fração de segundo, eu vi casas de vários andares a descerem pela montanha. Não havia mais nada, estava tudo coberto. Agora estou aqui e não temos onde dormir, não temos comida e roupas", lamenta.
A população precisa de alimentos, água potável e ajuda médica. O Governo local abriu um centro de acolhimento em Freetown para prestar apoio aos mais de 3 mil desalojados de Regent, uma das zonas mais afetadas. As autoridades temem que poços de água tenham sido infetados e que surja um surto de cólera, de febre tifóide ou de outras doenças. A União Europeia disponibilizou 300 mil euros para apoiar às famílias mais necessitadas.