Mali acusa França de apoiar grupos terroristas
19 de agosto de 2022O Mali enviou esta semana, ao Conselho de Segurança da ONU, uma carta na qual acusa a França de apoiar o terrorismo no seu território e de ter, já por diversas vezes este ano, ter violado o espaço aéreo do seu país.
Paris, que concluiu, na segunda-feira (15.08), a retirada dos seus soldados do Mali, recusa veemente as acusações, lembrando que, para além de milhares de milhões de euros, a Operação Barkhane custou ao país a vida de 53 soldados franceses.
"Se França não tivesse intervindo no Mali em 2013, a situação hoje seria completamente diferente. Os jihadistas teriam conseguido avançar e teriam tomado o aeroporto de Sévaré. Ao tomar aquele aeroporto, o Mali teria caído. O apoio da França foi crucial porque permitiu que o Mali continuasse a ser o que é hoje", explicou o analista político maliano Aly Barry.
Já Seidik Abba, jornalista e especialista na região do Sahel, diz não acreditar que o Mali avançasse com uma acusação destas sem ter provas palpáveis, pois estaria a arriscar a sua reputação.
"Se as autoridades malianas deram este passo de ir até ao Conselho de Segurança, presume-se que reuniram provas, pois caso contrário, seriam desacreditadas", disse Seidik Abba.
Rússia apoia cada vez mais o Mali
Desde que chegou ao poder, em agosto de 2020, a junta militar do Mali tem vindo a afastar-se de França e dos seus aliados. Um comportamento que, segundo vários analistas políticos, pode ser justificado com o crescente apoio da Rússia ao Mali.
Na semana passada, a Alemanha suspendeu a sua missão militar no país, depois das autoridades malianas terem negado, mais uma vez, a entrada de um avião militar alemão no seu espaço aéreo.
A rotação dos contingentes alemães, integrados na MINUSMA, foi, entretanto, retomada esta quinta-feira (18.08). No entanto, o Governo alemão mostra-se preocupado com os relatos que surgiram no início desta semana sobre a presença de soldados russos na cidade de Gao, no norte do país.
A deterioração das relações de Bamako com a comunidade internacional surge numa altura em que, segundo a ONU, os grupos fundamentalistas islâmicos controlam cerca de 75% do território do país. Alioune Tine, especialista independente das Nações Unidas no Mali, alerta para o facto de este não ser um "bom momento" para o Mali cortar relações com os seus parceiros.
"Precisamos de boas relações com a comunidade internacional. Foi por isso que lhe pedimos que apoiasse e reforçasse a autoridade do Estado no Mali. Eu disse-o e repito, se o Mali e o Sahel fossem ajudados como a Ucrânia tem sido, teríamos feito progressos na luta contra o terrorismo."
A acusação do Mali contra França surge numa altura em que o ministro da defesa maliano se encontra em Moscovo para comprar novas armas para o exército do país. Segundo a imprensa maliana, a viagem do coronel Sadio Camara acontece dias antes de uma possível visita do ministro dos negócios estrangeiros russo, Sergei Lavrov, à capital do Mali, Bamako.