Manifestantes insistem com demissão de Presidente guineense
23 de fevereiro de 2017"Povo não é lixo”, "Jomav [José Mário Vaz] rua”, "abaixo a ditadura”. Estas foram algumas das palavras de ordem ouvidas no protesto desta quinta-feira (23.02) contra a prolongada crise política na Guiné-Bissau. Os manifestantes pediram a demissão do Presidente guineense e a convocação de eleições gerais - legislativas e presidenciais - antecipadas no país.
"Estamos a pedir a sua demissão por ter demonstrado, pela sua conduta e pela sua atuação, que é incapaz de responder aos anseios de quem nele depositou esperanças. Hoje queremos dizer em alto e bom som ‘basta senhor Presidente, faça favor saia e convoque eleições gerais antecipadas”, afirma Nelvina Barreto, da organização deste protesto.
O Movimento de Cidadãos Conscientes e Inconformados, constituído na sua maioria por jovens, juntou centenas de pessoas, no protesto que percorreu a principal avenida da capital guineense, seguindo do Palácio do Governo, no bairro de Brá, até à Praça dos Heróis Nacionais.
Menos adesão
Em relação à marcha realizada a 11 novembro do ano passado, também a pedir a demissão do Presidente, agora a adesão foi menor. Nelvina Barreto explica que a diminuição no número de pessoas se deve às constantes proibições de manifestações por parte do regime no poder.
"Depois de algum período de interregno, em que fomos proibidos de nos manifestar por uma ordem ilegal e inconstitucional do Ministério da Administração Territorial, é natural que tenha havido uma certa quebra”, esclarece a responsável. Nelvina Barreto adianta que as manifestações vão ser retomadas depois do período do carnaval: "não podemos deixar os nossos direitos constitucionais violados”.
Já Sumaila Djaló diz ter saído à rua para fazer ouvir o grito de desespero pela situação atual do país. "A nossa classe política sempre nos massacrou, sempre nos oprimiu e hoje mais do que nunca o povo está a tomar consciência. Por isso, estamos todos nós a exigir que o Presidente ponha o seu cargo à disposição para que o país possa andar com os próprios pés”, argumenta.
Convocado Conselho de Estado
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, convocou para dia 2 de março, às 16:00 locais, uma reunião do Conselho de Estado, segundo avançou à DW África um membro do órgão consultivo do chefe de Estado guineense. Em cima da mesa estará a análise à crise política no país.
O Conselho de Estado é apenas um órgão de consulta do Presidente da República, sem parecer vinculativo. A sua reunião, normalmente, antecede a demissão ou nomeação do novo Governo.
Esta quarta-feira (22.02), a Comissão Permanente do Parlamento da Guiné-Bissau ter chumbado o pedido do Governo para um debate do seu plano de ação em sessão plenária do órgão.
Dos 15 parlamentares que integram a comissão, nove deputados do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) votaram contra o pedido, enquanto seis parlamentares do Partido da Renovação Social (PRS), votaram a favor do agendamento
A confirmação do programa pelo Parlamento é obrigatória para evitar a queda do Governo.
ONU prolonga por um ano a UNIOGBIS
Entretanto, o Conselho de Segurança da ONU aprovou esta quinta-feira (23.02) uma resolução que prolonga por mais 12 meses o mandato da missão da ONU para Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS).
O objetivo do prolongamento do mandato é garantir as condições para a realização de eleições legislativas e presidenciais, em 2018 e 2019, respetivamente.
Apesar do aplauso generalizado da comunidade internacional para o processo eleitoral de 2014, a Guiné-Bissau entrou novamente numa crise política sem solução à vista depois de o Presidente da República, José Mário Vaz, ter demitido o primeiro-ministro eleito, Domingos Simões Pereira, em agosto de 2015.