Bispo apela ao diálogo após massacre no Burkina Faso
29 de agosto de 2024O ataque no centro-norte do país, no último sábado (24.08), é um dos mais mortíferos desde que grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico se instalaram no Burkina Faso, vindos do Mali, há quase uma década, mergulhando o país numa crise de segurança.
Em entrevista à DW, Théophile Naré, bispo de Kaya, a capital da região, descreve a situação humanitária como crítica. Naré apela à ação para pôr fim à violência: "Mas como é que podemos agir? Por exemplo, deixando de nos trair uns aos outros. Temos de renunciar aos nossos interesses egoístas quando está em causa o interesse geral."
Jihadistas terão invadido a área, a cerca de três quilómetros da cidade, e aberto fogo contra centenas de pessoas que cavavam trincheiras para proteger a cidade de ataques, como relata o especialista Wassin Nasr.
"De acordo com um vídeo que tem circulado, que dura pouco menos de um minuto, podem ser contados dezenas de corpos numa trincheira. Corpos de homens vestidos à civil, com pás e sapatos, mas sem armas. Percebemos que se tratavam de pessoas que tinham sido requisitadas para cavar trincheiras para o exército e para os Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP)", explicou.
Um grupo de familiares das vítimas do massacre acusou o exército de obrigar os habitantes a abandonar a cidade, expondo-os ao ataque.
As promessas de Traoré
O líder do regime do Burkina Faso, o capitão Ibrahim Traoré, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 2022, tinha prometido fazer da luta contra o "terrorismo" a sua "prioridade".
Questionado pela DW sobre o que explica a dificuldade do exército em cumprir a promessa de proteger a população, o bispo de Kaya responde. "É uma pergunta difícil à qual não posso responder, porque não sou um líder militar. Isso cabe ao exército dizer. Não posso dizer ao exército como é que pode desarmar os terroristas."
No entanto, o bispo sublinha que "é preciso criar as condições para o diálogo e a negociação" para restabelecer a paz no Burkina Faso.
"Penso que começa com aceitação e tolerância. É isso que todos nós somos chamados a fazer, onde temos que nos converter. Enquanto o exército estiver a enfrentar extremistas, não sei se podemos considerar uma negociação imediata e direta", defende Théophile Naré.
Cerca de metade do território do Burkina Faso está fora do controlo do governo. Desde 2015, o país tem sido regularmente atingido por ataques de grupos extremistas, que mataram mais de 20.000 civis e militares, de acordo com a ONG ACLED, que regista vítimas de conflitos em todo o mundo.