1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
TerrorismoBurkina Faso

Bispo apela ao diálogo após massacre no Burkina Faso

Saleh Mwanamilongo | cm | Reuters | Lusa
29 de agosto de 2024

No Burkina Faso reina o sentimento de tristeza e consternação após o ataque terrorista em Barsalogho, que fez mais de 200 mortos. Em entrevista à DW, o bispo de Kaya descreve a situação humanitária como crítica.

https://p.dw.com/p/4k2Bt
Vista aérea de Kaya
Vista aérea da cidade de Kaya, no Burkina FasoFoto: OLYMPIA DE MAISMONT/AFP

O ataque no centro-norte do país, no último sábado (24.08), é um dos mais mortíferos desde que grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico se instalaram no Burkina Faso, vindos do Mali, há quase uma década, mergulhando o país numa crise de segurança.

Em entrevista à DW, Théophile Naré, bispo de Kaya, a capital da região, descreve a situação humanitária como crítica. Naré apela à ação para pôr fim à violência: "Mas como é que podemos agir? Por exemplo, deixando de nos trair uns aos outros. Temos de renunciar aos nossos interesses egoístas quando está em causa o interesse geral."

Jihadistas terão invadido a área, a cerca de três quilómetros da cidade, e aberto fogo contra centenas de pessoas que cavavam trincheiras para proteger a cidade de ataques, como relata o especialista Wassin Nasr.

"De acordo com um vídeo que tem circulado, que dura pouco menos de um minuto, podem ser contados dezenas de corpos numa trincheira. Corpos de homens vestidos à civil, com pás e sapatos, mas sem armas. Percebemos que se tratavam de pessoas que tinham sido requisitadas para cavar trincheiras para o exército e para os Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP)", explicou.

Um grupo de familiares das vítimas do massacre acusou o exército de obrigar os habitantes a abandonar a cidade, expondo-os ao ataque.

Capitão Ibrahim Traoré
Ibrahim Traore prometeu fazer da luta contra o terrorismo prioridade máximaFoto: Donat Sorokin/TASS/dpa/picture alliance

As promessas de Traoré

O líder do regime do Burkina Faso, o capitão Ibrahim Traoré, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 2022, tinha prometido fazer da luta contra o "terrorismo" a sua "prioridade".

Questionado pela DW sobre o que explica a dificuldade do exército em cumprir a promessa de proteger a população, o bispo de Kaya responde. "É uma pergunta difícil à qual não posso responder, porque não sou um líder militar. Isso cabe ao exército dizer. Não posso dizer ao exército como é que pode desarmar os terroristas."

No entanto, o bispo sublinha que "é preciso criar as condições para o diálogo e a negociação" para restabelecer a paz no Burkina Faso.

"Penso que começa com aceitação e tolerância. É isso que todos nós somos chamados a fazer, onde temos que nos converter. Enquanto o exército estiver a enfrentar extremistas, não sei se podemos considerar uma negociação imediata e direta", defende Théophile Naré.

Cerca de metade do território do Burkina Faso está fora do controlo do governo. Desde 2015, o país tem sido regularmente atingido por ataques de grupos extremistas, que mataram mais de 20.000 civis e militares, de acordo com a ONG ACLED, que regista vítimas de conflitos em todo o mundo.

CEDEAO sem o Mali, Níger e Burkina Faso?