Mediadores em Moçambique pronunciam-se sobre acusações
23 de dezembro de 2015Além de a equipa de mediadores nacionais negar conivência no cerco das forças governamentais à residência de Afonso Dlakhama, reafirma a sua “disponibilidade e prontidão em continuar a contribuir para a pacificação e melhoria do bem estar da sociedade moçambicana.”
Entenda o que acontece
A equipa de mediadores nacionais no diálogo político revelou que o grupo tem tido um envolvimento direto e ativo mínimo - ou quase nulo - no processo de pacificação de Moçambique desde outubro (9.10.2015), altura do cerco das forças governamentais à residência do líder da Renamo. Falando a jornalistas, esta quarta feira (23.12), um dos mediadores, o Professor Lourenço do Rosário, explicou: “Decidimos, discretamente, não nos pronunciarmos, nem nos movimentarmos, à volta do processo para não prejudicar aquilo que seria o processo do diálogo.”
Por seu turno, o Reverendo Anastácio Chembeze disse que houve uma série de interpretações. “Os nossos nomes foram beliscados, mas aceitamos esperar o momento propício para nos pronunciarmos, porque não queríamos misturar assuntos”, disse.
As acusações
Na última segunda feira (21.12.2015), o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, acusou os mediadores de conivência no cerco das forças governamentais à residência de Afonso Dlakhama.
O Sheik Saide Habibo, um dos mediadores, negou esta acusação, sublinhando que o grupo se deslocou a Gorongosa, a pedido da RENAMO, com o conhecimento do Governo, e apenas para testemunhar a retirada do líder da Resistência Nacional Moçambicana das matas.
"Cabe ao porta-voz da RENAMO apresentar as evidências de que realmente nós, como mediadores, tínhamos conhecimento do que iria acontecer ou que estávamos a par dos planos do Governo", disse Habibo.
As funções dos mediadores
Os mediadores afirmam que o seu envolvimento nos acontecimentos de outubro foi em resposta ao seu sentido de responsabilidade, apesar de estarem cientes dos riscos que corriam.
Ainda esta semana, o porta-voz da RENAMO disse que na sequência dos acontecimentos de outubro os mediadores deviam ser substituídos, acusando-os de serem “aprendizes” e afirmando que já deram o que tinham a dar.
O Reverendo Anastácio Chembeze respondeu afirmando que “como aprendizes fizemos todo o trabalho: desde a Lei eleitoral e até aqui aceitamos o posicionamento. Mas nós temos honra, dignidade e responsabilidade por aquilo que fazemos.”
Os mediadores revelaram que ainda não receberam qualquer comunicação por escrito, nem do Governo ou da RENAMO dispensando-os do seu trabalho.
Ainda nos últimos dias, o chefe de Estado, Filipe Nyusi, teceu críticas a alegados “intermediários que devido a importância que pretendem ganhar no processo de diálogo, por vezes, não transmitem fielmente as mensagens emitidas pelas partes.”
Algumas vozes consideram que o chefe de Estado se referia aos mediadores, suposição que é negada pelo Professor Lourenço do Rosário: “Temos indicações que essa intervenção do Presidente da República não se referia a nós. Se ele tivesse algum problema, teria nos chamado. Porque sempre nos chamou quando quis [falar conosco].”
Desde a invasão a casa do líder da RENAMO, esta é a primeira vez que os mediadores se pronunciam em público e a crise política continua, tendo recentemente, o líder do maior partido de oposição anunciado que vai começar a governar nas seis províncias que reclama vitoria nas eleições de outubro último em março de 2016.
A RENAMO e Governo mantinham um diálogo de longo-prazo no Centro de Conferência Joaquim Chissano, na capital moçambicana, com mediação de personalidades da sociedade civil e líderes religiosos, incluindo a equipa de mediadores, e que foi, entretanto, suspenso pelo líder da oposição, alegando que não havia progressos.