Medidas contra ébola reduzem tráfego de passageiros em Cabo Verde
12 de setembro de 2014Há muito poucas trocas comerciais entre Cabo Verde e outros países-membros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). No "top 10" dos parceiros comerciais de Cabo Verde não está nenhum membro da organização regional. A União Europeia é o principal parceiro comercial do país.
Por isso, na área do comércio internacional, os efeitos do plano de prevenção contra o surto de ébola têm sido pouco sentidos.
"Há alguns produtos senegaleses que estão a entrar em Cabo Verde no âmbito da CEDEAO, mas ainda não têm um grande significado", diz Jorge Spencer Lima, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Sotavento (CCISS).
O mesmo já não se pode dizer do setor dos transportes aéreos, uma vez que há ligações quase diárias entre as capitais cabo-verdiana e senegalesa. O Senegal é o único país afetado pelo ébola com ligação aérea direta para Cabo Verde.
Jorge Spencer Lima acredita que a decisão de restringir as entradas no país afeta principalmente a transportadora aérea cabo-verdiana TACV. "Os aviões estão a voar vazios", afirma o presidente da CCISS.
Cabo Verde mantém restrições
O Senegal anunciou esta semana que está curado o jovem da Guiné-Conacri que introduziu no país o único caso confirmado de ébola.
Mesmo assim, o primeiro-ministro cabo-verdiano diz que Cabo Verde ainda não vai retirar o Senegal da lista dos países interditados."A decisão vai vigorar durante três meses", afirma José Maria Neves.
O governante esclarece que o que as autoridades nacionais estão a fazer é evitar a entrada do ébola no arquipélago.
"Por isso é que não fechámos as fronteiras", diz José Maria Neves. "Decidimos manter a circulação, não discriminar ninguém e ser solidários com os países onde há ébola, ao mesmo tempo que tentamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger o país e evitar que o ébola entre em Cabo Verde."
UA pediu fim das restrições a viagens
Numa reunião extraordinária realizada na segunda-feira (08.09), a União Africana recomendou que as restrições de viagens por causa do vírus do ébola sejam suspensas.
É preciso "ter cuidado para não introduzir medidas que tenham mais impacto social e económico do que a própria doença", referiu na altura a chefe da comissão da União Africana (UA), Nkosazana Dlamini-Zuma.
Cabo Verde diz ter-se antecipado às recomendações da UA. "Nós não fechámos as fronteiras", sublinha a ministra da Saúde, Cristina Fontes Lima. Além disso, a partir de 1 de setembro, o país pode "autorizar, pontualmente, a entrada de pessoas que venham de países afetados – por razões económicas, de emergência, humanitárias e outras de interesse público."
Aplausos e críticas
O ganês Tony Parker, presidente da Plataforma das Comunidades Africanas Residentes em Cabo Verde, aplaude as medidas governamentais. "Estamos de acordo com as orientações das autoridades. Porque essa doença não é fabricada, é a sério", diz Parker.
Já o analista e professor universitário Daniel Medina mostra algumas reservas em relação ao plano de prevenção contra o ébola. "Em termos de teoria estamos bem preparados, mas em termos de prática não estamos assim tão bem preparados", diz à DW África. "Por outro lado, temos pecado um pouco em termos de informação."
Apesar da campanha de informação tanto nas rádios como nas televisões, ainda há cabo-verdianos que dizem ter poucas informações sobre a doença.
Planos funcionam?
O conselho do ministério da Saúde cabo-verdiano reuniu-se esta semana para analisar, entre outros assuntos, o impacto das medidas que têm sido tomadas no combate ao ébola.
O conselho decidiu que, nos próximos dias, o ministério da Saúde organizará simulações para verificar se o Plano Nacional de Combate à epidemia funciona. A linha verde criada para acompanhar os eventuais casos da doença também será testada.
O ministério da Saúde anunciou que o Governo disponibilizou cerca de 50 mil euros para prevenção e combate ao ébola.