Memórias brasileiras da escravidão
O Cais do Valongo no Rio de Janeiro, principal porto de entrada de escravos africanos no Brasil, foi eleito Património Mundial da Humanidade. Para que o crime não se repita nunca mais.
Atentado contra a dignidade humana
Estima-se que cerca de um milhão de africanos passaram pelo Cais do Valongo para serem vendidos, escravizados, torturados, violados e muitas vezes impunemente chacinados, no que constitui um dos maiores atentados contra a dignidade humana na História da humanidade. O cais tinha caído no esquecimento coletivo no Brasil até ser redescoberto durante obras de revitalização na zona portuária.
Nunca mais
Marcelo Brito, diretor do Departamento de Articulação e Fomento do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan-Brasil), na foto à esquerda, disse à DW África que o Cais do Valongo "é um sítio de memórias sensível sobre um fato ocorrido na história da humanidade" que deve ser lembrado para "evitar que volte a ocorrer".
Recorde de escravos
Com cinco milhões de africanos transportados à força para o Brasil a partir do século XVI, este país foi o maior importador de escravos do mundo. Foi também o último a abolir oficialmente a escravatura, em 1888. Nas escavações no Cais do Valongo foram encontradas várias provas materiais dos maus-tratos sofridos pelos escravos, incluindo valas comuns.
Objetos oriundos de Angola e Moçambique
Nas obras de revitalização realizadas na Zona Portuária do Rio de Janeiro, no período que antecedeu os Jogos Olímpicos de 2016, foram descobertos dois ancoradouros: Valongo e Imperatriz. Os arqueólogos resgataram uma quantidade enorme de amuletos, anéis, pulseiras, jogos de búzios e objetos de culto provenientes do Congo, Angola e Moçambique.
Preservar a memória
Ao proclamar o Cais do Valongo Partimónio Mundial da Humanidade, a UNESCO pretende que o Brasil conserve o local de modo que não se apague a memória do sofrimento terrível dos homens, mulheres e crianças que por ali passaram. Uma placa no local explica que o Cais do Valongo foi construido em 1811 expressamente para o desembarque de escravos africanos.
A escravidão ainda existe
A escravidão no Brasil não é apenas um episódio na história antiga do país. O Índice Global de Escravatura de 2016, da fundação australiana anti-esclavagista Walk Free, parte da existência de cerca de 161 mil escravos no Brasil de hoje. Segundo a Organização Internacional do Trabalho e ativistas, na última década, as autoridades fizeram progressos na luta para pôr cobro à escravidão moderna.
Crime contra a humanidade
Os entrepostos no Cais do Valongo acomodavam mais de dois mil escravos em condições desumanas. A falta de espaço e higiene provocava doenças, às quais sucumbiam em massa. As escavações puseram a descoberto um cemitério com valas comuns e as ossadas de mais de seis mil africanos. O cais, diz a UNESCO, "é um local de memória, que remete a um dos mais graves crimes perpetrados contra a humanidade".