Memórias da resistência à Alemanha nos Camarões
11 de dezembro de 2014Para muitos, a história de Rudolf Manga Bell é um símbolo da luta contra o colonialismo, de que o rei foi mártir. As suas últimas palavras ainda ressoam: “Vocês estão a enforcar sangue inocente. Matam-me em vão. […] Deus, ouve a minha última prece: que este solo nunca mais seja pisado por alemães.”
Na altura, os Camarões eram um chamado “protectorado alemão”. Bell falava alemão. Em criança, o seu avô pô-lo a estudar na escola governamental alemã, nos Camarões.
Mais tarde, Bell estudou vários anos na Alemanha. De volta aos Camarões, chegou a ser considerado como um mediador entre a administração colonial alemã e o povo duala.
Revolta contra a injustiça
Para o historiador Andreas Eckert, Bell não se interessava só pelos valores alemães. Interessava-lhe sobretudo a possibilidade de utilizar os alemães para consolidar o seu poder: “Foram-lhe dados determinados poderes – ele podia cobrar impostos e recebeu subsídios de representação pelo seu trabalho”, explica o historiador.
Mas, mais tarde, Bell insurgiu-se. Em 1910, o governador alemão Theodor Seitz apresentou um novo plano urbanístico para a cidade de Douala. Seitz queria transformar o território habitado pelos duala numa grande cidade, um centro económico só para europeus. Os habitantes locais teriam de deixar as suas casas e mudar-se para o interior pantanoso. Em contrapartida receberiam uma pequena indemnização.
O racismo alemão
Andreas Eckert diz: “Os alemães rebaixavam os africanos, consideravam-nos sujos e achavam que espalhavam doenças como a malária. Este rebaixamento foi muito doloroso para alguém como Rudolf Douala Manga Bell, que se considerava um amigo dos alemães e alguém civilizado e que falava a língua alemã.”
Bell lutou contra as deslocações forçadas e contra a discriminação racial. Escreveu petições ao Parlamento e mobilizou deputados, missionários e jornalistas em defesa da causa dos duala. Foi uma luta política, com argumentos.
A memória perdura
A administração colonial não cedeu. Mas, até ao fim, Bell também não desistiu. Em 1913, a polícia destruiu as primeiras casas. Mesmo assim, o rei dos duala continuou a enviar cartas e enviou um emissário para a Alemanha. Em 1914, Rudolf Douala Manga Bell foi condenado por “traição” e morto a 8 de agosto por enforcamento.
A história do rei dos duala ainda hoje é contada nas escolas dos Camarões. “Ele é muito conhecido. Lutou contra o poder colonial, pelo seu povo. Todos os livros de história falam sobre ele. Fala-se sobre ele em todas as comemorações nos Camarões. Ele é considerado como uma figura histórica única”, diz Sylvie Andela Bambona, professora numa escola secundária camaronesa.