Merkel sob fogo por negócio de armas com Angola
14 de julho de 2011O negócio dos barcos de patrulha que a chanceler quer fechar com Angola, seria do interesse da Alemanha, uma vez que contribuirá para que os conflitos regionais em África sejam solucionados a nível regional. É, pelo menos, essa a explicação oficial. Em entrevista à Deutsche Welle, o encarregado pessoal da chanceler para a África, Günter Nooke, desvalorizou o projeto: "Trata-se de pequenas embarcações que deverão ajudar a assegurar a costa angolana”, disse Nooke, acrescentando ser impossível esperar que a NATO solucione todos os conflitos do mundo com tropas da Europa ou da Alemanha.
Por isso é sensato proporcionar a outros países as condições e o equipamento para poderem velar pela sua própria segurança defende Nooke, que remata: “Se me permite o pequeno sarcasmo, decerto que não corremos o perigo que os barcos patrulha sejam usados para reprimir manifestantes nas praças das cidades".
Oposição critica o procedimento da chanceler
A explicação não satisfaz a oposição política no Parlamento Federal, que avançou com duras críticas contra o propósito do Governo de Berlim. A colíder do partido dos Verdes, Claudia Roth, comentou que "está claro que não temos uma chanceler que respeite as leis concernentes às exportações de armamento".
E o especialista social-democrata em política externa, Rolf Mützenich, lembrou que "na Alemanha promulgámos leis para a exportação de armamento, que tomam em consideração a questão dos direitos humanos e também eventuais conflitos de fronteiras. Mas a chanceler deu uma nova tónica à exportação de material bélico na política externa, o que penso ser um erro".
Angola não é considerado um estado de direito
Mützenich referia-se à perceção na Alemanha de que em Angola os governantes não respeitam os direitos humanos na medida adequada, além de que existe um conflito em torno da independência do exclave de Cabinda. Esta não é a primeira vez que a Alemanha exporta material bélico para Angola. Segundo o relatório oficial de 2009, até à data o mais recente, nesse ano o valor da entrega de armas a Luanda atingiu 11 milhões e meio de euros.
Mas a venda dos barcos de patrulha, com valor cifrado em 60 milhões de euros, aumentaria em muito o que até agora era uma exportação modesta. Rolf Mützenich tem um mau pressentimento: "Tive a sensação nítida de que a chanceler pretende usar esta oferta como um primeiro passo para mais negócios de armas, o que me desagrada sobremaneira”, diz o político social-democrata, acrescentando que: “Ultimamente todas as viagens da chanceler estão ligadas a fornecimentos de armas. Penso que ela não se deve tornar num caixeiro-viajante para a indústria do armamento".
Autora: Cristina Krippahl
Edição: António Rocha