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Religião

Mesquitas em África: Prova de força no Próximo Oriente

Silja Fröhlich | ck
9 de janeiro de 2020

A Arábia Saudita, a Turquia e o Irão estão a construir centenas de mesquitas em África, incluindo alguns edifícios gigantescos. As ideologias dos investidores têm consequências significativas.

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Foto: imago/robertharding

Em novembro foi inaugurada no Djibuti a mesquita "Abdulhamid II", a maior do país. Com 13.000 metros quadrados, 6000 lugares e dois minaretes de 46 metros de altura, a mesquita é um colosso na capital do mesmo nome. No interior, as paredes estão decoradas com caligrafia otomana clássica. Lamelas de cobre dourado cobrem a cúpula, iluminadas por um enorme candelabro que lembra as mesquitas turcas.

As semelhanças não são um acaso. A construção ficou a cargo da autoridade religiosa estatal turca Diyanet que pretende estreitar a ligação entre o Djibuti e a Turquia. A maior parte do material foi importada da Turquia, incluindo a pedra de cor creme que reveste a sala de oração.

A ideia nasceu em 2015 durante uma visita do Presidente do Djibuti, Ismail Omar Guelleh à Turquia, na qual disse ao chefe de Estado turco Recep Tayyip Erdogan que queria uma mesquita com arquitetura otomana. Erdogan não se fez rogado. Segundo o antropólogo Abdoulaye Sounaye, do Centro Leibniz de Estudos Modernos Orientais (ZMO), em Berlim, "a Turquia quer tornar-se numa potência islâmica, como a Arábia Saudita é há décadas".

Para aumentar a influência no continente africano, a Turquia investe somas elevadas no setor religioso. Em 45 anos, a Diyanet financiou a construção de mais de 100 mesquitas e instituições de ensino em 25 países, incluindo Djibuti, Gana, Burkina Faso, Mali e Chade. Ancara também participou na renovação de mesquitas na África do Sul e na construção da "Mesquita Nizamiye", naquele país, considerada a maior mesquita do hemisfério sul. A Turquia ajudou ainda a renovar a "Mesquita da Solidariedade Islâmica" em Mogadíscio, a capital da Somália. Trata-se da maior mesquita do Corno de África, com espaço para até 10.000 crentes.

Religion und Ramadan in Burkina Faso
Crentes no Ramadäo no Burkina FasoFoto: Getty Images/AFP/S. Kambou

"É assim que constroem a sua reputação, mostrando às pessoas: que podem fiar-se em nós, porque nós temos recursos à disposição", diz Sounaye. Agora há mesquitas gigantescas e lustrosas mesmo em sítios onde que nem têm eletricidade.

Prova de força entre as potências orientais

A construção da mesquita em Mogadíscio em 1987 foi financiada pela Fundação Saudita Fahd bin Abdul Aziz Al Saud. Também a Arábia Saudita está a investir no continente africano. "Há pelo menos dez ou 20 anos que a Arábia Saudita investe no Níger, Nigéria e Mali. Desta forma cria lugares onde pode pregar sua abordagem teológica do Islão, o chamado salafismo", disse o especialista Sounaye à DW. O salafismo é uma interpretação sunita particularmente rigorosa do Islão que se baseia num conceito idealista dos alegados fundamentos do Islão e não aceita ensinamentos religiosos mais tolerantes - como o sufismo - que são generalizados em África.

"Através das mesquitas podem ser propagadas todas as ideologias o que permite ganhar poder e influência através da religião", diz Bakary Sambe, que dirige o Instituto Timbuktu, um grupo de reflexão na capital senegalesa, Dakar, e investiga a radicalização e os conflitos religiosos na África. Sambe concorda que a religião é uma estratégia eficaz para exercer influência nos países africanos.

Para além da Turquia e a Arábia Saudita, também o Qatar e o Irão reconheceram este potencial. O Irão construiu mesquitas no Senegal, Costa do Marfim e Guiné, outros países. "Trata-se de concorrência entre as potências no Próximo Oriente por influência em África", diz Sambe, referindo o exemplo da Nigéria. Desde que o Irão xiita aumentou a sua presença naquele país da África Ocidental, a Arábia Saudita começou a construir mais mesquitas "para manter a influência salafista", diz Sambe. Na Nigéria, a minoria xiita sente-se oprimida e é regularmente vítima de ataques. Ocorrem ainda confrontos violentos entre os xiitas e as autoridades sunitas.

Mesquitas como plataformas contestadas

O analista Sounaye critica o facto de haver poucos controles. "Até muito recentemente, qualquer um que tivesse dinheiro podia construir uma mesquita no Níger. Não havia nenhum regulamento", diz. Das mais de 21 milhões de pessoas que vivem no país na zona do Sahel, 99% são muçulmanas.

Somalia Moschee der Islamischen Soldarität in Mogadishu
A maior mesquita sa Somália foi financiada pelos sauditasFoto: picture-alliance/AP Photo/F. A. Warsameh

"Desde 1990, as mesquitas tornaram-se num dos lugares mais disputados do Níger", explica Sounaye. Uma das principais razões foi o aumento do salafismo; muitos jovens salafistas construíram as suas próprias mesquitas. "A Arábia Saudita está a promover a radicalização do Islão", diz Sounaye. "Construiu uma mesquita no Níger e treinou na Arábia Saudita um estudante nigerino para assumir o cargo de imã. Que ocupa já há vários anos, o que é importante para fortalecer o salafismo", diz Sounaye.

Boko Haram e a "dupla diplomacia"

A forte corrente salafista em África já causou problemas sérios. "Os conflitos aumentaram desde os 90, quando o salafismo começou a ser apoiado pela Arábia Saudita", diz Sounaye. Na Nigéria, a radicalização favoreceu a emergência da milícia terrorista Boko Haram. "O seu antigo líder Mohammed Yusuf usou a sua própria mesquita para espalhar a ideologia da guerra santa - jihad. Os sauditas têm feito pressão para uma radicalização do Islão na África Ocidental."

No Mali e no Níger foi, sobretudo, a Irmandade Sufista que sofreu com a radicalização, diz o especialista Sambe na entrevista ao DW. Os Sufis na África Ocidental são considerados tolerantes e têm tendências ascéticas. "Os salafistas pretendem destruí-los", diz Sambe. Apesar da maioria sufista e das fortes raízes tradicionais desta corrente do islão, o salafismo ganha terreno - por causa da Arábia Saudita e por causa do dinheiro investido por aquele país, diz Sambe. Embora a Arábia Saudita diga há anos que coopera menos com os salafista em África, Sambe acusa-a de "dupla diplomacia": "O Estado diz que não está a dar dinheiro a movimentos radicais. Mas organizações privadas e ricas continuam a financiar estas mesquitas", diz o especialista

Marrocos também está cada vez mais ativo na diplomacia religiosa africana. Com a fundação do "Instituto Mohammed VI" em 2015, o país começou a contrariar as ideologias extremistas do Sahel com uma versão moderada do Islão, conhecida como a escola maliki. O instituto treina de preferência imãs da África Ocidental, de Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné. 500 bolsas foram para o Mali. Os bolsistas contam que depois são apoiados pelo Marrocos nos seus estudos e na construção ou reconstrução de mesquitas. É um apoio muito discreto, sem edifícios espampanantes para chamar a atenção.

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