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Mia Couto: "Paz em Moçambique deveria ser mais debatida"

3 de abril de 2017

O escritor moçambicano Mia Couto defende um debate mais alargado sobre a paz, não só entre os políticos mas também na sociedade civil. Em entrevista à DW África, fala ainda sobre os escândalos de corrupção no país.

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Escritor moçambicano Mia Couto na Feira do Livro de LeipzigFoto: DW/N. Issufo

Os moçambicanos vivem ainda uma paz com prazo de validade. O Governo moçambicano e o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), acordaram em cessar as hostilidades até 4 de maio. Esta é a terceira trégua consecutiva, algo que alimenta as esperanças dos moçambicanos numa paz definitiva.

Durante a Feira do Livro de Leipzig, que terminou a 26 de março na Alemanha, a DW África falou com o escritor Mia Couto sobre a situação política, o combate à corrupção e a falta de transparência em Moçambique.

Mia Couto: "Paz em Moçambique deveria ser mais debatida"

DW África: Faz sentido que o destino do povo, em discussão apenas entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a RENAMO, não possa também ser decidido pelo povo, em termos de debate alargado?

Mia Couto (MC): Acho que Moçambique tem as duas coisas - tem algum espaço de liberdade democrática. Por exemplo, os jornais que existem no país criticam abertamente a situação; as pessoas falam. Nunca senti propriamente medo de dizer o que pensava dentro de Moçambique, o que não é uma coisa muito comum hoje em dia no mundo. Ao mesmo tempo, acho que há assuntos que deveriam ser mais debatidos. A paz seria um deles. Mas também entendo que há questões que deviam ser debatidas no Parlamento, e isso envolveria um terceiro partido político, o MDM [Movimento Democrático de Moçambique], que se sente excluído da negociação. É uma coisa esquizofrénica: [a RENAMO] é um partido político e, ao mesmo tempo, é um exército, com armas. Quando está feliz discute no Parlamento e quando não está ataca as pessoas e os carros nas estradas. Tudo isso parte de uma base errada. Agora, quando se trata de discutir questões de uma guerra, como fazer terminar um assunto militar, também entendo que tem de haver conversações "fechadas".

DW África: Os escândalos de corrupção têm abalado o país e membros das elites políticas têm os seus nomes associados a esses escândalos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) têm mostrado um esforço extra, embora tímido, para esclarecer alguns desses casos. Essas iniciativas resultam de uma pressão interna e externa ou trata-se de mera vontade de trabalhar?

MC: Acho que as duas coisas são verdade. Há uma pressão exterior muito forte. Dentro do próprio sistema, da própria FRELIMO, [também] há uma posição que pretende que o assunto seja da responsabilidade de quem o causou, e essa posição foi assumida, por exemplo, pela bancada da FRELIMO na Assembleia da República – não é uma coisa tão minoritária assim. E eu estou muito curioso para saber como se resolve um assunto destes, que realmente envolve compromissos de gente muito poderosa no país.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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