Milhares de sudaneses em protesto contra ao golpe militar
30 de outubro de 2021Milhares de manifestantes anti-golpe no Sudão realizaram neste sábado (30.10) uma manifestação nacional contra a sangrenta tomada do Governo pelos militares, no início desta semana.
Os manifestantes exigeram a restauração de um Governo liderado por civis, colocando o país da África Oriental novamente no caminho da democracia, após décadas de regime autoritário.
"Não seremos governados pelos militares", esta é a mensagem que iremos transmitir nos protestos", disse a ativista sudanesa Tahani Abbas à agência noticiosa francesa AFP.
"As forças militares são sangrentas e injustas, e estamos a antecipar o que está prestes a acontecer nas ruas", disse Abbas. "Mas já não temos medo", acrescentou.
O Sindicato de Médicos do Sudão afirmou na tarde deste sábado (30.10) que pelo menos dois manifestantes foram mortos a tiro por tropas no capital do país, Cartum.
Repressão
Na última segunda-feira (25.10), militares liderados pelo general Abdel-Fattah Burhan detiveram a liderança civil do Sudão e dissolveram o Governo, destituindo ainda o gabinete do primeiro-ministro Abdalla Hamdok.
Os protestos de rua que seguiram-se ao golpe desencadearam uma brutal repressão pelas forças de segurança.
Pelo menos 11 manifestantes morreram e cerca de 170 ficaram feridos.
Os ativistas de direitos humanos temem mais derramamento de sangue, mas os manifestantes continuam a desafiar o Governo.
Os organizadores do protesto deste sábado (30.10) esperam encenar uma marcha de milhões de pessoas contra os militares.
"O exército deve voltar ao seu quartel e dar a liderança ao Hamdok", disse um dos ativistas.
"A nossa exigência é um país civil, um país democrático, nada menos do que isso", disse o mesmo.
Condenação internacional
Os Estados Unidos apelaram a uma restauração do Governo liderado por civis, acrescentando que os protestos de hoje seriam um "verdadeiro teste" às intenções dos militares do Sudão.
Para além da condenação, o Banco Mundial e os Estados Unidos anunciaram também medidas punitivas, tais como o congelamento da ajuda ao país que já lutava sob uma crise económica.
Os EUA continuam a apoiar "o povo sudanês na sua luta não violenta pela democracia", disse o Secretário de Estado Antony Blinken através da rede social Twitter.
"As forças de segurança do Sudão devem respeitar os direitos humanos; qualquer violência contra manifestantes pacíficos é inaceitável", disse.
Nessa sexta-feira (29.10), o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, apelou aos militares para darem mostras de contenção ao reafirmar a sua "forte condenação" do golpe.
"As pessoas devem poder manifestar-se pacificamente", afirmou Guterres.