Milhares de sudaneses protestam contra militares
30 de junho de 2019Dezenas de milhares de pessoas marcham este domingo (30.06) em Cartum, a capital do Sudão, e em outras cidades do país exigindo a transferência do poder pelos militares para os civis. O protesto foi convocado por estudantes universitários da coalizão das Forças para a Liberdade e Mudança (FFC).
Os manifestantes ecoam a palavra "Madaneeya", que significa "civil", e seguem em diferentes grupos às casas de sudaneses que foram mortos em confrontos com os militares. A presença de forças de segurança é massiva.
Imagens de vídeo mostram participantes da marcha na capital sudanesa a correr das forças de segurança, que disparam bombas de gás lacrimogéneo perto do Palácio Presidencial. Mohammed Yousef al-Mustafa, porta-voz da Associação de Profissionais Sudaneses (SPA), disse à agência de notícias Associated Press (AP) que gás lacrimogéneo também foi disparado na cidade de Omdurman.
Em Atbara, outra cidade próxima à capital, o Comité de Médicos Sudaneses, o braço médico da SPA, informou que um jovem manifestante de 20 anos foi morto a tiros. Khaled Mohi, um membro do comité, informou que um manifestante foi ferido em Cartum.
As marchas marcam o 30º aniversário do golpe de Estado que garantiu, em 1989, a chegada ao poder do antigo Presidente Omar al-Bashir, que foi destituído pelos militares a 11 de abril deste ano depois de protestos contínuos da sociedade civil contra o Governo, iniciados em dezembro de 2018.
Desde abril, a contestação exige a entrega do poder aos civis, mas o Conselho Militar de Transição liderado pelo general Abdel-Fattah Burhan ainda não cedeu. As negociações foram suspensas a 20 de maio por falta de acordo. A 3 de junho, protestos foram duramente reprimidos pelos militares, deixando pelo menos 128 mortos.
Acordo à vista?
O general Mohamed Hamdan Dagalo, vice-presidente do Conselho Militar de Transição, afirmou a apoiantes que os militares querem alcançar um "acordo urgente e abrangente". "Nós do Conselho Militar somos totalmente neutros. Nós somos os guardiões da revolução. Nós não queremos fazer parte de nenhuma disputa", declarou.
Segundo Mohamed Hamdan Dagalo, membros de três tropas das Forças de Apoio Rápido (FAR), grupo paramilitar ligado ao Conselho Militar no poder no Sudão, ficaram feridos durante os protestos em Cartum.
Às vésperas da marcha convocada para este domingo, o Conselho Militar de Transição advertiu que grupos opositores serão responsabilizados por qualquer morte ou danos materiais causados pelos protestos em massa. O vice-chefe do Conselho Militar alertou sobre alegados "vândalos" com uma "agenda oculta" que podem tentar tirar vantagem dos protestos.
A União Europeia (UE) defendeu o direito do povo sudanês de protestar e expressar suas opiniões, direito que é assegurado pelo União Africana (UA). O Departamento de Estado norte-americano pediu ao Conselho Militar que permita os protestos pacíficos e evite usar "qualquer tipo de violência" contra os sudaneses.
Mediadores liderados pela UA e o Presidente da Etiópia, Abiy Ahmed, estão a tentar promover o diálogo entre as partes. Na sexta-feira passada (28.06), o Conselho Militar disse que a proposta submetida pelos mediadores a 27 de junho era adequada para a retomada das negociações com os líderes dos protestos.