Milhares manifestam-se contra raptos e guerra em Moçambique
31 de outubro de 2013“Queremos a paz”, “não à guerra”, “stop raptos”,“exigimos segurança” foram alguns dos apelos ouvidos durante a “Marcha pela paz e contra os raptos” que esta quinta-feira (31.10) percorreu várias artérias da cidade de Maputo e que culminou com um encontro na Praça da Independência.
Organizada pela Liga dos Direitos Humanos, a manifestação na capital moçambicana foi a maior marcha popular de protesto contra o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder desde a independência do território há 38 anos.
Em apenas dois anos registaram-se já cerca de 50 raptos, tendo-se instalado um clima de medo, terror e insegurança nos principais centros urbanos. Neste momento, quatro cidadãos, incluindo uma criança, estão nas mãos dos raptores.
“O que queremos é paz!”
A manifestação na capital decorreu de forma ordeira e pacífica apesar de ter contado com a adesão de mais de 20 mil pessoas, de acordo com os organizadores.
“Ora há sequestros, ora há guerra. Não há paz. Se o Governo não tem capacidade para controlar a situação, que se demita”, afirmou Abdul Remane Ravat, um dos manifestantes que a DW África encontrou nas ruas de Maputo.
O presidente da Associação dos Desmobilizados de Guerra, Hermínio dos Santos, considera que os moçambicanos já estão cansados desta situação. “Não queremos mais raptos nem guerra em Moçambique. O que queremos é a paz!”, sublinhou.
Hermínio dos Santos lançou ainda um apelo para que o Presidente Armando Guebuza vá falar com Afonso Dhlakama, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), “para acabar com a guerra.”
“Vinte e um anos depois, não queremos saber quem tem razão. Não queremos cidadãos a morrer com balas”, defendeu também Eric Charas, editor do jornal de distribuição gratuita @Verdade, considerado o semanário de maior circulação no país.
Para o presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, a paz passa pelo diálogo. “O presidente Guebuza e o presidente Dhlakama devem sentar-se e resolver os problemas premente da sociedade porque os interesses das elites políticas não se podem sobrepor aos interesses da nação”, reclama.
João Nhampossa, da Liga dos Direitos Humanos, alerta que com os novos confrontos armados Moçambique voltou a ter “muitas famílias desamparadas” e também refugiados. “Os ataques, tanto da RENAMO como do Governo, não fazem nenhum sentido”, critica.
Regresso da guerrilha?
Nos últimos dias, as autoridades governamentais defenderam que o principal partido da oposição, incorre numa situação de inconstitucionalidade, podendo por isso ser interdita de realizar atividades políticas, por estar a levar a cabo alegados ataques armados.
Para Augusto dos Santos Pelembe, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o único partido que juntamente com a FRELIMO e RENAMO tem assento no Parlamento, essa não é a solução. “Acredito que seria o liberar de uma guerrilha autêntica”, alerta.
O jurista e jornalista Ericinio de Salema também adverte para os riscos de ações armadas de guerrilha. “O banimento da RENAMO teria mérito legal, mas seria demérito político”, defende.
A presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabota, que está à frente do movimento contra a onda de raptos, diz que não vai desistir enquanto não conseguir travar este fenómeno. “As pessoas não se vão calar. Vai haver um tumulto como no norte de África. Experimentem!”, desafia Alice Mabota, que diz não temer pela sua vida.