Religiosas elucidam sobre grau de violência em Cabo Delgado
26 de novembro de 2019As Irmãs de São José, congregação religiosa presente em Macímboa da Praia, lembram que o norte de Moçambique vive, há dois anos, "num clima de medo e de insegurança", face aos ataques de homens armados não devidamente identificados contra as populações.
Segundo Katia Rejane Saci, uma freira da congregação que acompanhou em outubro a conselheira geral das Irmãs de São José, Maraelena Aceti, numa visita a Mocímboa da Praia, "poderes ocultos" querem "impor os seus próprios interesses, matando pessoas, incendiando aldeias e semeando destruição por toda [a] parte".
"Pelo caminho até Mocímboa da Praia, [os] nossos olhos viram as marcas da destruição do ciclone Kenneth e dos ataques por grupos armados", relatou a irmã Katia Saci, citada numa nota da Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre).
Rastro de destruição
Para a fundação, o testemunho da religiosa, publicado na página da Internet da congregação, "elucida o grau de violência, destruição e medo que atingiu esta zona de Moçambique desde 2017, quando tiveram início os ataques armados que já provocaram cerca de 300 mortos, milhares de deslocados e um rasto impressionante de destruição com aldeias praticamente reduzidas a escombros".
No dia 16 de novembro, "registou-se mais um desses ataques, desta vez em Miangalewa, no distrito de Muidumbe, na província de Cabo Delgado. O balanço é, uma vez mais, trágico: três mortos, casas queimadas, destruição de alfaias agrícolas", refere a Fundação AIS.
População abandona as suas casas
Para esta instituição, a situação levou já a um alerta do bispo de Pemba, Fernando Luís Lisboa. O prelado, citado na mesma nota, avisa que "o inimigo não tem rosto" e, apesar da presença das forças de segurança, "os ataques continuam de forma violenta".
A Fundação AIS adianta que, apesar de o bispo não identificar os atacantes, "há uma crescente convicção de que a região norte de Moçambique estará na mira de grupos 'jihadistas'".
A instituição, em setembro, dava conta de que o autoproclamado Estado Islâmico tinha reivindicado pela primeira vez um ataque ao que classificou como sendo "uma vila cristã". "As localidades de Mbau, Quitejaro e Cobre foram, entretanto, alvo de ataques reivindicados também pelos 'jihadistas'", salienta a fundação.