Moçambique: crise afeta turismo no sul do país
24 de maio de 2016A vila turística de Vilanculos costumava ser um dos destinos de referência para vários turistas de todo o mundo.
Para além das águas cristalinas do Oceano Índico, a possibilidade de ver de perto espécies como as raias-jamantas e os tubarões-baleia, entre outras, atraíam inúmeras pessoas à localidade da província de Inhambane.
No entanto, a situação alterou-se e, agora, as estâncias turísticas passam semanas sem receber clientes.
O principal problema apontado pelos operadores é a crise político-militar que se vive na zona centro de Moçambique. “Temos este conflito e tensão política, que nos está a abalar muito mesmo”, afirma Suleimane Cassamo, proprietário de uma empresa que se dedica a passeios para turistas pelas ilhas e ao mergulho.
“Os turistas fazem as reservas, mas acabam por as cancelar”, afirma o empresário. “Ficamos uma semana sem clientes nos quartos e barcos, as coisas vão subindo cada dia, mas as despesas não param. Tenho que pagar alimentação, trabalhadores, energia, água e finanças.”
Ligações entre Maputo e Vilanculos agravam problema
Paulo Baptista, português, vive há mais de 20 anos em Vilanculos, onde é proprietário de um "lodge". Considera que o grande problema do turismo na vila é “o aeroporto, onde não aterram aviões de grande porte, que vêm da Europa diretamente para aqui”.
Apesar de receber vários turistas de Itália, Espanha e Portugal, quem vem da Europa tem de aterrar primeiro na capital moçambicana , Maputo, e depois apanhar um voo de ligação. “Têm de vir [de Maputo] num avião pequeno, com 50, 60 pessoas no máximo, e o avião não chega a tempo. Os voos são caros e nós temos um turismo de negócio”, afirma Paulo Baptista.
De acordo com dados do Fórum de Turismo de Vilanculos, nos últimos dois anos encerraram cerca de 10 estâncias turísticas na região, levando para o desemprego vários cidadãos.
Os habitantes apelam ao fim do conflito entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição.
“Estamos a falar no caso de a RENAMO aceitar dialogar com o Governo, porque a guerra nunca traz felicidade, desenvolvimento, só destrói e prejudica”, diz Suleimane Cassamo, que acredita que depois de “as duas partes se entenderem, tudo voltará a melhorar”.